Durante toda a reprodução de Fonte da Vida somos mergulhados integralmente num mar de complexidade. Em Pi, caminhamos na obscura mente de um gênio da matemática a qual é salpicada com loucura e sanidade. Já em Réquiem Para Um Sonho somos expostos à cenas pesadas que fazem parte do mundo de pessoas viciadas em drogas. Estes três filmes do diretor Darren Aronofsky são fixados numa atmosfera complicada e, dependendo do caso, de difícil digestão. Chegou a vez do diretor americano se aventurar em algo simples que aparentemente parecia ser clichê e simples ao extremo. The Wrestler trata da vida de um homem que, no passado, fez sucesso como lutador profissional e ainda hoje vê sua vida girar em torno da luta. Mas já estamos cansados de assistir fitas com essa temática em várias das tentativas chatas de transpô-la ao cinema. O Lutador é um filme muito bom, mas adianto que é o trabalho mais “fraco” de Aronofsky.
Randy “The Ram” Robinson (a lenda Mickey Rourke), como já disse, é um veterano no ringue, mas no fundo é absolutamente solitário. Um sujeito simpático, mas com jeito de brutamonte que vê em Cassidy (Marisa Tomei) uma pessoa com quem pode desabafar mesmo sua relação com a moça sendo limitada, já que ela é uma stripper. Com a sua ajuda, Randy tenta refazer sua vida e resolve reatar o relacionamento com sua filha, Stephanie (Evan Rachel Wood) e esta reaproximação não será fácil e renderá três dos momentos mais maravilhosos e emocionantes da fita. Filmando o tempo todo com a câmera na mão, Darren usa e abusa de movimentos bruscos e secos, mas nunca deixando a sensibilidade de lado. Utiliza planos-sequência de muito bom gosto ao retratar a vida solitária de um homem que tenta se reerguer. O ritmo da película vai do mais frenético – com as impressionantes lutas coreografadas – até o mais melancólico que, infelizmente, faz o filme perder bastante sua agilidade. Desta forma, não me encantei tanto pela montagem que foi o motivo pelo qual tirei a maior parte de nota. Também não virei grande fã de várias inserções de cenas que, pra mim, soaram como forçadas demais. Discordo de quem disse que Mickey é filme. Ele faz algo genial e isso é uma das minhas certezas acerca do assunto. Mas acredito que o roteiro seja um dos pontos mais fantásticos do qual devo comentar. Robert Siegel escreve com muita paixão e percebemos claramente que ele desvia todas as possibilidades de cenas clichês. Um texto sensível, complicado, precioso e real. Aliás, realismo é a palavra que define a excelente direção de Darren.
Deixo reservado o último parágrafo para divagar sobre o melhor de O Lutador: o elenco. Mickey Rourke interpreta a ele mesmo?! De certa forma, sim. Mas sua composição é tão sincera e tão profunda que não há como não vermos sua determinação. As duas coadjuvantes estão espetaculares. Marisa Tomei é uma stripper, mas que tem uma vida fora da boate e Evan Rachel Wood é a filha esquecida. Vale lembrar que as duas estão no mesmo patamar de atuação, mesmo Evan aparecendo muito menos que Marisa. Os créditos, após um final muito interessante, são embalados por uma das melhores canções para filme desta década. Trata-se de The Wrestler do formidável Bruce Springsteen. Encerrando, fica claro que não achei o filme irretocável, mas sim muito bom. De qualquer forma, fica claro, pelo menos pra mim, que Darren Aronofsky é um dos melhores diretores em atividade.
Nota: 8,0
The Wrestler; EUA, 2008; DRAMA; de Darren Aronofsky; Com: Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood.
Randy “The Ram” Robinson (a lenda Mickey Rourke), como já disse, é um veterano no ringue, mas no fundo é absolutamente solitário. Um sujeito simpático, mas com jeito de brutamonte que vê em Cassidy (Marisa Tomei) uma pessoa com quem pode desabafar mesmo sua relação com a moça sendo limitada, já que ela é uma stripper. Com a sua ajuda, Randy tenta refazer sua vida e resolve reatar o relacionamento com sua filha, Stephanie (Evan Rachel Wood) e esta reaproximação não será fácil e renderá três dos momentos mais maravilhosos e emocionantes da fita. Filmando o tempo todo com a câmera na mão, Darren usa e abusa de movimentos bruscos e secos, mas nunca deixando a sensibilidade de lado. Utiliza planos-sequência de muito bom gosto ao retratar a vida solitária de um homem que tenta se reerguer. O ritmo da película vai do mais frenético – com as impressionantes lutas coreografadas – até o mais melancólico que, infelizmente, faz o filme perder bastante sua agilidade. Desta forma, não me encantei tanto pela montagem que foi o motivo pelo qual tirei a maior parte de nota. Também não virei grande fã de várias inserções de cenas que, pra mim, soaram como forçadas demais. Discordo de quem disse que Mickey é filme. Ele faz algo genial e isso é uma das minhas certezas acerca do assunto. Mas acredito que o roteiro seja um dos pontos mais fantásticos do qual devo comentar. Robert Siegel escreve com muita paixão e percebemos claramente que ele desvia todas as possibilidades de cenas clichês. Um texto sensível, complicado, precioso e real. Aliás, realismo é a palavra que define a excelente direção de Darren.
Deixo reservado o último parágrafo para divagar sobre o melhor de O Lutador: o elenco. Mickey Rourke interpreta a ele mesmo?! De certa forma, sim. Mas sua composição é tão sincera e tão profunda que não há como não vermos sua determinação. As duas coadjuvantes estão espetaculares. Marisa Tomei é uma stripper, mas que tem uma vida fora da boate e Evan Rachel Wood é a filha esquecida. Vale lembrar que as duas estão no mesmo patamar de atuação, mesmo Evan aparecendo muito menos que Marisa. Os créditos, após um final muito interessante, são embalados por uma das melhores canções para filme desta década. Trata-se de The Wrestler do formidável Bruce Springsteen. Encerrando, fica claro que não achei o filme irretocável, mas sim muito bom. De qualquer forma, fica claro, pelo menos pra mim, que Darren Aronofsky é um dos melhores diretores em atividade.
Nota: 8,0
The Wrestler; EUA, 2008; DRAMA; de Darren Aronofsky; Com: Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood.
13 comentários:
Pretendo ver hoje "O Lutador", sua nota é boa, to com expectativa. Não vi os outros filmes do diretor (nome muito difícil pra escrever) por falta de interesse mesmo.
Quero ver roteiro, Mickey, Marisa e, agora, Evan. Depois tu vai lá ver ;)
Kau, concordo com o que você disse sobre a montagem. Acho que o filme pula de um nível para outro muito repentinamente. Mas eu gostei do roteiro e principalmente do elenco. Não sei se a Academia premiaria Mickey Rourke, afinal ele não é um ator muito exemplar, mas se o fizesse, não seria injusto! A imagem que ele dá para mo protagonista é muito verdadeira.
Poxa, se um filme "fraco" recebe um 8,0, não quero nem saber suas notas para os melhores filmes do Aronofsky! :-)
Eu quero muito ver "O Lutador". Tenho curiosidade para ver a volta do Mickey Rourke, mesmo não sendo uma das maiores fãs do Darren. Beijos!
Olá, Kau! Tudo bem?
Tenho que confessar que acho "Requiem para um Sonho" muito deprimente, fiquei deprimida quando assisti. E quero muito ver "O Lutador" e torço pelo Mickey ganhar.
Beijos! ;)
Ah, que pena que não gostou muito, Kau, mas a nota foi alta de qualquer forma. Eu dei 8,5 com gosto de 9. Não me incomodei com a montagem, acho que a maneira como o Darren filma, sempre da mesma forma, deixa fluir tudo muito bem, mesmo que o teor de cada cena seja diferente. No mais, realmente ótimo elenco e roteiro, pena que o Oscar não deu o reconhecimento necessário.
[]s!
Fiquei bem emocionado com "O Lutador" e acho que merecia bem mais do que duas míseras indicações - o indicaria facilmente para melhor filme, direção, roteiro, etc. E montagem também, achei ótima. Abraço!
Yuri, acho que a força do filme é o roteiro e o elenco. Os três principais estão incríveis.
Matt, exatamente. O filme tem desníveis emocionais o tempo todo e a edição não contribui para isso. Mickey está muito bem, mas ainda quero ver Sean antes de falar em Oscar.
Kami, eu sou MUITO fã do Darren. Acho sua pequena grande filmografia magnífica e, sim, 8 é a menor nota que dei a um filme dele. Creio que vc irá adorar o filme, pode confiar! Beijos!
Mayara, to meio cansado, mas bem; e vc?! Réquiem Para Um Sonho, a meu ver, é o melhor filme de Darren. Quase uma obra-prima!, rsrsrs. E acho que, assim como disse à Kami, vc vai amar O Lutador. Beijos!
Jeff, discordo do que vc diz sobre a montagem. Ela não passa nem perto de ser tão precisa e competente como as de Fonte da Vida e, principalmente, Réquiem Para Um Sonho. Inclusive, acho a edição deste irretocável até dizer chega, rsrsrsrs. Abraços!
Vinícius, o filme é sim emocionante. Talvez entre na minha lista nas categorias de Roteiro e Direção. Ator e atrizes coadjuvantes é bem provável! E canção, garantido! Abraços.
Ontem fui ao cinema com a minha senhora e vimos o trailer do filme. Ela comentou "Porra, novo Rocky?". E eu: "Não, isso é Aronofsky, deve ser sinistro". Mas a cada passagem dramática, eu ia ficando mais desacreditado. Pelo menos o trailer dá pistas de ser filme com mensagem, coisa que Aronofsky não faz. Lendo sua resenha entendo onde essas partes se encaixam.
Abs!
É um tour de force do Mickey Rourke! E acho que o mais fraco do Aronofsky é THE FOUNTAIN.
Ah, vi aí que vc assistiu a IRMA LA DOUCE, do grande Billy Wilder. Quero resenha!
Abs! Bom final de semana!
Dudu, não entendi o que vc quis dizer. Aronofsky não faz filmes com mensagens? De qualquer forma, O Lutador nos passa uma bela mensagem, pode esperar. Abs!
Otavio, Fonte da Vida é meu segundo filme preferido de Darren. Vem atrás de Réquiem e antes de Pi. Assisti o filme do MANGÍFICO Wilder sim e, apesar de não achar o seu melhor trabalhop, é um filme delicioso! Assim que puder, escrevo a resenha. Só peço um tempinho... esperar essa temporada de Oscar, ok?! Abraços e ótimo fim de semana para você tb!
Régis, achei o roteiro magnífico sabe pq? Conseguiu extrair de uma história totalmente conhecida por todos (de lutador) uma lição de vida. Mostrou todos os sentimentos de um homem solitário e sem uma vida social relativamente boa. Rourke, como o Otavio disse acima, é um tour de force e, pra mim, Evan merecia o reconhecimento pelo papel.
Concordo contigo! É o mais fraco, mas ele é muito bem eleborado e construído.
parabéns pelo blog!
http://cinema-o-rama.blogspot.com
Pedro, exatamente! Obrigado pelos parabéns. CUMPS!
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