terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Irma La Douce / Desafio Oscar 2000


Dia 27 de Março de 2002 o mundo perdeu o que era, pra mim, um dos melhores roteiristas que já existiu e também um dos diretores mais geniais, Billy Wilder. Quase que o tempo todo apelando para contos envolventes, ele não deixava de inserir humor aos filmes, mas sempre com uma originalidade sem tamanho. Poderia ficar aqui falando sobre Se Meu Apartamento Falasse, Pacto de Sangue, Farrapo Humano, A Mundana, O Pecado Mora ao Lado, A Montanha dos Sete Abutres e Crepúsculo dos Deuses. Mas o amigo Otavio, do Hollywoodiano, pediu para que eu divagasse sobre uma das obras mais simples e, ao mesmo tempo, complexas de Billy: Irma La Douce.

Numa Paris não muito distante do nosso tempo (mentira, um pouco distante sim), existia um “contrato” entre prostitutas, cafetões e policiais, segundo o qual os dois primeiros davam “contribuições” à autoridade local, pois prostituição é crime – e assim, todos ficavam felizes. Acontece que o certinho policial Nestor Patou (o sempre espetacular Jack Lemmon) faz uma ronda no “ponto das meninas”, acaba fazendo a coisa certa e, por esse motivo, é demitido (Billy escracha a corrupção nas autoridades). Naquela rua, de pronto, conheceu e se apaixonou por Irma (Shirley MacLaine até então linda) e, desempregado, acaba tornando-se seu cafetão. Entretanto, a sua paixão por ela é tão forte à ponto de não admitir que Irma vá para a cama com outro homem além dele. Desta forma, com a ajuda de Moustache (Lou Jacobi), dono de um bar, Nestor se disfarça como um rico lorde inglês para se passar por cliente de Irma e, assim, tê-la só para ele. Ao passo que Patou consegue tudo o que queria, Irma desconfia que ele não sente mais interesse por ela – já que ele sente-se cansado por assumir dois papéis numa só vida. Uma briga entre o casal e a posterior eliminação do lorde inglês resultará numa situação absolutamente incomum e hilária. Não tem como rir e, paradoxalmente, ficar nervoso com a situação proposta por Wilder a partir daí. Os atos do filme, aliados a um desfecho ótimo, só ratificam a genialidade deste homem no que diz respeito aos seus escritos e sua postura atrás das câmeras.

O mais interessante no filme, além é claro dele como um todo, é o elenco. Jack Lemmon foi um dos melhores atores que pude ver em cena e, apesar de não ser um de seus melhores papéis, seu Nestor é fantástico. Um homem certinho que se vê numa atmosfera totalmente diferente da qual estava habituado a viver. A grande estrela do filme é Shirley MacLaine que incorpora toda a sensualidade e frieza de uma prostituta que, ao mesmo tempo, é doce e meiga. Provou ter um talento indiscutível, além de estar no auge de sua beleza (infelizmente não posso dizer o mesmo hoje, pois é só assistir ao telefilme Coco Chanel e vê-la toda “plastificada”). Alguns aspectos técnicos são de extrema relevância e devem ser mencionados como o “desenho fotográfico” de Joseph LaShelle. A fotografia do filme é maravilhosa e parece, de fato, desenhada. As cores vibrantes são fruto de belos figurinos (Orry Kelly – responsável também pelas peças de Quanto Mais Quente Melhor e de Sinfonia de Paris, seu trabalho mais notável). Alexandre Trauner foi o responsável pela direção de arte, que é muito coerente, principalmente a disposição de mobília e objetos no hotel. Mas não tem como; o trunfo supremo deste Irma La Douce é seu roteiro. Resta-me dizer: oh, Billy Wilder! Como o senhor faz falta!


Nota: 8,0


Irma La Douce; EUA, 1963; DRAMA/ROMENCE/COMÉDIA; de Billy Wilder; Com: Jack Lemmon, Shirley MacLaine, Lou Jacobi, Bruce Yarnell, Herschel Bernardi, Hope Holiday.
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Também aproveito este post para atender ao pedido do Cleber (Cineclub) e postar - além, é claro, de comentar - a minha lista ideal nas categorias de Melhor Filme e Direção no Oscar 2000. Vamos lá:

Melhor Filme



>>>Magnólia, de Paul Thomas Anderson<<<
Beleza Americana, de Sam Mendes
A História Real, de David Lynch
Tudo Sobre Minha Mãe, de Pedro Almodóvar
Quero Ser John Malkovich, de Spike Jonze
Menção Honrosa: Clube da Luta, de David Fincher

O filme de Fincher acabou perdendo a indicação para o de Jonze, na minha avaliação. Mas por muito pouco, confesso. Não entendo o porquê de colocar Regras da Vida num pedestal. É um belo filme, com um bom elenco; mas não merece indicação à filme e direção. O Informate é instigante, interessante e bem feito. Entrou fácil no top 10, mas não no 5. O mesmo falo de À Espera de Um Milagre. Magnólia é obra-prima, simples assim. Beleza Americana é uma pequena obra-prima, simples assim de volta. Tudo Sobre Minha Mãe é uma das obras-primas de Pedro... opa, novamente simples assim. Os outros dois, Quero Ser John Malkovich e A História Real, não chegam no patamar máximo, mas muito perto.



Melhor Direção

>>>Sam Mendes, Beleza Americana<<<
Paul Thomas Anderson, Magnólia
David Fincher, Clube da Luta
Pedro Almodóvar, Tudo Sobre Minha Mãe
Spike Jonze, Quero Ser John Malkovich
Menção Honrosa: David Lynch, A História Real

Os trabalhos de direção, neste ano, foram espetaculares. Mas não teria como deixar Mendes sem o prêmio, ainda mais sendo a sua estréia oficial. O que ele faz em American Beauty é fascinante, pesado, escrachado, brilhante! O mesmo posso dizer dos demais indicados. Vale lembrar que muitos acham que o trabalho de Lynch foi fácil no belo A História Real, mas se engana quem diz isso. Um diretor largar completamente seu estilo (a complexidade) e mergulhar num roteiro tão sensível e simples não é fácil.

Agora é com vocês! Quem quiser fazer a lista, sinta-se à vontade.

18 comentários:

Alyson Santos disse...

Irma La Douce ainda não vi, Kau. E sobre o desafio concordo com cada linha de sua autoria.

E tem Selo pra você também no Cine ao Cubo!

Grande Abraço!

Pedro Henrique Gomes disse...

E À Espera de Um Milagre, não gosta?

Anônimo disse...

Gostei muito da lista do Oscar, não está muito diferente da minha - também prefiro ligeiramente "Magnólia", apesar de "Beleza Americana" ser tão bom quanto! Só faltou "O Informante", mas você explicou...

Museu do Cinema disse...

Billy Wilder faz muita falta com certeza, ainda mais nos tempos atuais de Batman e etc no cinema de hollywood.

Mas ele deixou, em certo sentido, um diretor a altura, Cameron Crowe, fã confesso e seguidor! É incrível como ninguém comenta sobre isso!

Unknown disse...

Billy Wilder, na minha opinião, era um diretor que não tinha medo de ser malvado com seus personagens. Ou seja, era o cara! Esse filme eu ainda não vi, mas não será nenhum sacrifício! rs...

Abs!

Kau Oliveira disse...

Alyson, obrigado pelo selo!!!! Abs!

Pedrão, eu adoro o filme mas faltou espaço para ele, infelizmente.

Vinícius, O Informante é ótimo e quase entrou, like I said.

Cassiano, vc não perde a oportunidade de falar do pobre Batman né? Hahahahahahahahahaha. Sobre o Crowe, eu não o citei no texto pq não o acho genial como Wilder. Quer dizer, acho que é bem aquém deste, uma vez que o único trabalho dele que recebeu uma nota alta foi Quase Famosos.

Dudu, exatamente. Inclusive era para Merilyn Monroe fazer a Irma, mas ele ficou com epna de escalá-la de volta para um filme, rsrsrsrsrs. Abs!

Otavio Almeida disse...

IRMA LA DOUCE é um grande filme. Talvez não seja um dos melhores do Billy Wilder mesmo. Mas certamente é melhor do que cada um dos 5 indicados ao Oscar de Melhor Filme deste ano.

A comparação, claro, é um tanto canalha, pois comparar épocas e estilos diferentes é como dizer que Pelé foi melhor que Zidane.

Naquela época, o cinema era um reflexo da literatura e do teatro. Hoje, para o bem ou para o mal, é um reflexo da cultura pop, que, queria ou não, inclui quadrinhos.

Mas que dá saudade de Billy Wilder, ah, dá.

Belo texto, Kau!

Abs!

Ricardo Nespoli disse...

Kau, meu companheiro, depois de muito tempo de demora, finalmente respondemos ao selo que você nos deu... Já pode ganhar sua caricatura? Rs... Abraços...

Anônimo disse...

Kauê M.!!! :-)

Voltei das merecidas ferias e voltei a tocar o blog, que estava abandonaderrimo, judiação!

Esse joguinho dos melhores eu fiz ano passado, lembra? ;)

99 foi um ano FODA! Ui!

See ya, buddy! (Entra no MSN qq dia pra eu te contar das férias, uh-lelê!)

Museu do Cinema disse...

Pobre do Batman Kau, só se for o original do Tim Burton, pq esse ai tá mais para bilionário comprador! E o pior, agora sem nada nas mãos e sem dinheiro, nas mãos de jornalistas corruptos.

Agora, vc como fã confesso do Wilder deveria olhar mais atentamente a obra do Crowe e tentar enxergar as similaridades entre os dois, acho que o Cameron consegue resgatar um pouco do cinema do Billy, o que para fãs como vc seria um prazer.

Kau Oliveira disse...

Otavio, obrigado! Eu concordo com você. São épocas diferentes e estilos, mesmo que parecedos, também um pouco distantes. E vou morrer dizendo que Cameron tem que comer muito arroz e feijão pra chegar perto de Billy. Abs!!

Nespoli, obrigado por aceitar ao selo!!! Vou parabenozá-los por lá. Abs!!

Luiz E..!!! hahahahahahahha. Quanto tempo! Vou lá dar uma criticada na sua nota para O Leitor já já, buddy. E eu to sempre no MSN, é só entrar. See ya!

Cassiano, primeiro que eu não gosto das caricaturas do Batman e Coringa feitos por Burton. Até pq, como vc sabe, eu ODEIO 99% dos filmes de super-heróis. Já foi largamente discutido The Dark Knight esta temporada e sempre vou dizer que é um filme excelente, rs. Sobre Cameron, sinceramente só não vi dois filmes dele (Vida de Solteiro e Digam o Que Quiser). Gosto MUITO de Quase Famosos, mas acho Jerry Maguire e Elizabethtown apenas simpáticos; nunca encontrei um resquício sequer da genialidade de Wilder por ali. Vanilla Sky é sim bastante interessante e, inclusive, acho o filme bem coplexo. Se algum deles apresenta alguma similaridade com os filmes de Billy, talvez seja este.

Unknown disse...

Bah! Não vi "Irma La Douce"!
Sobre o Oscar, gostei de suas lembranças - "Clube da Luta" e "Magnólia" não podiam ficar de fora, de jeito nenhum. Mas o meu preferido neste ano era "À Espera de Um Milagre"...
Grande abraço!

Unknown disse...

Mentira!
Esqueci de "O Sexto Sentido"...

Mayara Bastos disse...

Olá, Kau! Tudo bem?

Não vi "Irma La Douce", mas depois de seu texto, irei começar a minha busca por ele. E sobre seu MeMe, você colocou "Magnólia", apesar de eu gostar dele, coloquei no lugar "Fim de Caso". ;)

Beijos!

Kau Oliveira disse...

Weiner, eu realmente adoro À Espera de Um Milagre. Mas como eu disse, faltou espaço. Preciso rever O Sexto Sentido mais que urgentemente!! Abs!

Mayara, tudo bem e tu?! AProcure mesmo Irma La Douce. E sobre o MeMe, é bem pessoal. Fim de Caso é maravilhhoso e amei sua menção a ele. Mas Magnólia é um dos filmes da minha vida. Beijos!

- cleber . disse...

Oh só tenho a agradecer pela reposta do meu desafio em breve irei colocando outros ...

Bela lista do Kau, como já era esperada!

Anônimo disse...

Muito boa sua lista! Alias, vai ficar bem parecida com a minha. Beleza Americana e Magnólia são maravilhosos!

Kau Oliveira disse...

Cleber, eu adoro desafios. Obrigado pela indicação.

Wally, obrigado!! Concordo com vc.