segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O Casamento de Rachel


Querendo ou não, algumas confusões familiares em dia de festa sempre são inevitáveis. E os ânimos se exaltam mais ainda quando nestes encontros alguns segredos ou lembranças do passodo vêem à tona. O Casamento de Rachel – um dos filmes mais subestimados da temporada – mostra alguns dias que precedem o enlace matrimonial de Rachel (Rosemarie DeWitt) e Sidney (Tunde Adebimpe) até chegar à tão esperada data. Entretanto, o clima, que até então era de felicidade, muda bruscamente com a chegada da irmã da noiva, Kym (Anne Hahaway), que acaba de sair da reabilitação para viciados em drogas. Entretanto, o roteiro já começa nos enganando: achamos que tudo o que seguirá será decorrente deste problema dela com as drogas, mas na verdade a moça carrega consigo um histórico de conflitos pessoais e familiares, que aos poucos se manifestam e são expostos.

Jenny Lumet é brilhante ao escrever um texto que vai muito além de confusões familiares por motivos bobos. Aqui, elas se agarram a um fato ocorrido no passado o qual foi protaginizado por Kym e trouxe consequências terríveis para ela e a família. Este fato também virá para explicar algumas atitudes tomadas por alguns dos membros do clã durante a fita. Vemos muitos temas e sentimentos diferentes por aqui, como problema com drogas, ciúmes, tristeza, um casamento totalmente diferente do convencional que nos mostra um pouco de uma cultura indiana. Filmando quase que o tempo todo com a câmera na não, Jonathan Demme, apesar de dar um ar real a película, não deixa que a frieza tome conta de tudo, mesmo com cenas duras. Na verdade, ele insere uma sensibilidade incomum ao filme e instrui o elenco para que sejam intensos em tempo integral. Antes disso é válido lembrar que Jenny constrói cada personagem com muita cautela e percebemos que, mesmo fazendo parte da mesma família, cada um é muito diferente e peculiar que o outro.

Não por ser independente, mas tecnicamente não há exageros. Temos o que é necessário e esse necessário, por oras, conduz o filme a um tom meio paupérrimo demais (a fotografia poderia ter sido mais explorada, assim como a trilha sonora). Mas não tem problema: é um material feito por um texto excelente, comandado por uma direção correta e que toma forma por um elenco magistral. Rosemarie DeWitt é ótima como a noiva paradoxal que, mesmo amando a irmã, provoca cenas de ciúme de forma implícita. Debra Winger (a mãe ausente das meninas), em três ou quatro cenas – sendo uma delas belíssima onde temos uma conversa entre ela e Kym – faz algo incrível. Mas devo admitir que, do elenco coadjuvante, não tem pra ninguém: Bill Irwin, interpretando o pai de Rachel e Kym, chega pra nos deixar de queixo caído em cada momento que aparece. É zeloso, culpado, feliz e a mistura de vários outros sentimentos de um pai que só quer ver as filhas vivendo bem e superando o “problema-chave” do filme. Indicada ao Oscar de Melhor Atriz, Anne Hathaway tornou-se minha favorita aos 48 do segundo tempo. Como pode uma atriz tão jovem compor uma personagem tão intensa e complexa como ela fez?! Cada olhar, cada nuance, cada lágrima derramada... Anne é impressionante! Com a ajuda de tudo que eu já citei de positivo, encanta a todos. Os cinéfilos que gostam de cinema independente denso e cheio de qualidade, esta é uma ótima pedida.


Nota: 8,5

Rachel Getting Married; EUA, 2008; DRAMA; de Jonathan Demme; Com: Anne Hathaway, Rosemarie DeWitt, Debra Winger, Bill Irwin, Mather Zickel, Anna Deavere Smith, Tunde Adebimpe.

13 comentários:

- cleber . disse...

Este foi um dos poucos indicados que ainda não vi !

abraço!

Anônimo disse...

Fico impressionada com os excelentes comentários que Anne Hathaway obteve por este filme. Ela era a favorita de muitos blogueiros cinéfilos. Pena que perdeu ontem, mas tenho certeza de que ela marcará presença em festas futuras do Oscar.

Tendo dito isso, "O Casamento de Rachel" é o filme que eu mais espero assistir nesta temporada do Oscar. Espero que possa fazer isto em breve.

Beijos!

Pedro Tavares disse...

Bom filme! A estética documental, quase algo do Dogma 95 me atrai, mas os últimos minutos do filme são muito mornos para uma trama tão intensa e explosiva...

http://cinema-o-rama.blogspot.com

Jeniss Walker disse...

nem vi.
na verdade, dos indicados, era o que menos me chamava a atenção. mas deve ser bom. vejo em DVD.

abraços, Kau.
:P

Mayara Bastos disse...

Olá, Kau! Tudo bem?

Já esperava coisa boa deste "O Casamento de Rachel", mas se superou. O modo como Jonathan Demme conduzio com a câmera na mão deu mais emoção ao filme e Anne Hathaway surpreendeu-me. Minha nota é a mesma que a sua.

Beijos e tenha uma ótima semana! ;)

Kau Oliveira disse...

Cleber, assista que vale a pena. Abs!

Kami, ela está arrebatadora. O filme se apóia num belíssimo roteiro e o elenco vai muito bem. É capaz que vc goste bastante. Beijos!

Pedro, eu discordo de você. Acho que mesmo sendo bem humilde, o filme não chega a ter características escrachadas do Dogma 95. Teria que ser mais paupérrimo para receber esse título, né?! Por outro lado, concordo com vc sobre o final.

Jeniss, não sei se o filme vai agradar você. Espero que agrade... não custa nada tentar, rs. Abs!

Mayara, tudo bem e vc?! Eu adoro o filme. Tive lá problemas com seu final, mas nada que comprometa o conjunto da obra. Anne é fabulosa, não?! Beijos e boa semana!

Anônimo disse...

Kau, só vendo mesmo pra dizer algo sobre "Verônica". Felizmente insere um cinema de gênero, mas também mantém o velho assunto de sempre.

Sobre o Dogma 95, acredito que ele tenha uma inspiração, um ensaio, mas sem que ele vire uma referência completa pro filme, o que não favorece, pq ao mesmo tempo que utiliza a câmera na mão e outras características, utiliza de uma produção bem rica.

abração

Unknown disse...

Adorei o filme, acho que a Hattaway está simplesmente fantástica e a Jenny Lumet provou que possui talento. Uma injustiça preterirem a Dewitt e o Irwin do Oscar, mas vá lá, ninguém é perfeito.
Um grande abraço, Kau!

Anônimo disse...

"O Casamento de Rachel" me surpreendeu completamente, uma vez que só esperava uma atuação maravilhosa da Anne Hathaway (algo que se confirmou), mas o longa acaba funcionando extremamente bem em seu conjunto. Que bom que aprovou o resultado também!

Kau Oliveira disse...

Pedro, vou conferir Verônica quando chegar em DVD; mesmo assim, com medo. Ainda acho que o filme de Demme está longe de fazer parte do Dogma, mas agora te entendo perfeitmente; é só uma amostra simples de como seria se o fosse. Abraços!

Weiner, infelizmente nem DeWitt e nem Winger entraram na minha lista (se uma entrasse, seria esta). Entretanto, Anne e Bill entraram e com louvor. Belo roteiro, belo filme. Abraços!

Vinícius, gostei demais do filme. Talvez a grande surpresa da temporada. Simples e intenso, o que adoro numa fita. Além de tudo é extremamente bem atuado.

Anônimo disse...

Adorei o filme. Alias, nem pareceu filme, fui transportado para um casamento e, mais especialmente, sentimentos crus. As atuações são dignas, mas Hathway detona!

Mesma nota. :)

Ciao!

Romeika disse...

Ainda nao vi este filme, mas fiquei curiosa devido aos excelentes comentarios q Anne Hathaway recebeu da critica (alem da indicacao ao Oscar). Bjs!

Kau Oliveira disse...

Wally, exatamente! Me senti como um guest no meio de todos. Senti tudo como se fosse real. Abs!

Romeika, o filme não vale só por ela. O roteiro e op resto do elenco são incríveis!!!! Beijos!