O que decididamente mais me irrita em filmes que abordam uma temática adolescente são os roteiros sempre clichês, bobinhos e idênticos. Chegou, então, uma ex-striper de nome Diablo Cody e escreveu o roteiro ousado sobre a garota Juno e entregou as mãos de Jason Reitman para que este o dirigisse. O que acontece eh que muitas pessoas acharam a idéia central deste filme horrenda, uma vez que poderia ser tratada de forma fria demais. Mas Reitman, apesar de, pra mim, a fita ser extremamente direta, lança mão de uma sensibilidade aparente ao conduzir o roteiro.
Juno conquistou muitos críticos e cinéfilos e foi tido como a comedia dramática do ano, sendo, assim, indicado a 4
Oscar – vencendo o de Roteiro Original.
Juno (Ellen Page) é uma adolescente como outra qualquer, que não tem o intuito de se comprometer com nada que seja parte do viés da responsabilidade. Na verdade, ela é totalmente desleixada e vive fazendo piadas, mas deixo claro que estas sempre são bastante inteligentes. Ela mora com seu pai (J.K. Simmons ) e sua madrasta (Allison Janney), alem de ter um melhor amigo, Paulie (Michael Cera) com o qual resolve brincar de gente grande e acaba sofrendo as consequências desta brincadeira. A garota, sendo mais claro, fica grávida do melhor amigo, que também é um adolescente que só pensa em treinar cooper e comer pastilhas “Tic Tac”. De pronto, Juno pensa em apelar para algo extremo, o aborto. Mas logo ela desiste da idéia, conta para seus pais e, com a ajuda de sua amiga resolve procurar pais perfeitos para adoção pelo jornal. É assim que encontra Mark (Jason Bateman) e Vanessa (Jennifer Garner): um casal bonito, legal e que sonham em ter um filho. Desta forma, Juno “fecha contrato” com o casal e passa a conviver com eles por conta da gravidez, uma vez que Vanessa queria acompanhá-la de perto. A partir daí, o filme toma dimensões mais adultas, pois alguns fatos começam a acontecer, os quais prejudicarão a harmonia do casal.
Diablo Cody foi elogiadíssima por seu argumento bastante atual. E confesso que a primeira vista também o achei incrível. Mas depois de mais duas revisões, acabei percebendo que o roteiro, apesar de original, bate de frente com alguns valores que sigo. O desfecho da fita é extremamente fiel a todo o restante, mas mesmo assim percebemos que o sentimento de Juno para com a criança era muito maior do que ela achava. Vamos ao que me deixa inquieto acerca do texto: tudo gira em torno da irresponsabilidade de Juno e Paulie. Ela encontra o casal perfeito para adotar a “coisa” (Juno se refere assim ao próprio filho),
PARA QUE ESTA TENHA UMA EDUCACAO CORRETA E SEJA CRIADA POR ADULTOS RESPONSÁVEIS. O que segue tem
SPOILER. Percebam, pois, que Mark e Vanessa se separam antes mesmo do nascimento da criança e, deste modo, a pobre “coisa” terá uma educação tão prejudicada quanto se tivesse ficado com a adolescente irresponsável.
Fim de SPOILER. Aqui, então, cai por terra a possível lição de moral sobre responsabilidade que deveria estar contida no filme.
A direção de Reitman é apenas correta no que tange a condução do argumento. Mas se formos analisar o seu trabalho de apoio ao elenco, temos algo bastante interessante. Imaginando ser decapitado agora pelos senhores, digo que não vejo nada demais na atuação de Ellen Page. Ela interpreta a si mesma e não se aprofunda na situação, a meu ver (diferentemente do que faz Mickey Rourke em
O Lutador: é ele mesmo, mas com uma entrega impressionante). Tem lá seus momentos que me fizeram rir, mas tudo por culpa de boas tiradas inseridas por Cody (Page faz muito mais em
Os Fragmentos de Tracey onde, inclusive, nos apresenta a melhor atuação de sua carreira). J.K. Simmons, Allison Janney, Michael Cera e Jennifer Garner, no entanto, estão brilhantes. Jennifer entrou fácil entre as melhores coadjuvantes daquele ano na minha lista. Em termos técnicos, Juno não tem nada desenvolvido ate por que não precisava. O que vale destacar é a trilha sonora, que é linda de morrer! Pensei horas sobre que nota final atribuir a esta fita. Resolvi classificar a direção de Reitman e a atuação de Page como, de fato, apenas corretos e, desta forma, não tiro nota por culpa deles. Saibam que meu grande problema é como já expus aqui, o roteiro da estreante Diablo Cody.
Nota:
7,0Juno; EUA, 2007; DRAMA/ROMANCE/COMÉDIA; de Jason Reitman; Com: Ellen Page, Michael Cera, Jennifer Garner, Jason Bateman, J.K Simmons, Allison Janney, Olivia Thirlby.COMUNICADO: Como os caros leitores e leitoras do
Bit of Everything puderam perceber, o editor que vos fala está ausente em termos de postagem e comentários nos blogs parceiros. O pior é que por um tempo indeterminado eu continuarei postando mais ou menos a cada dois dias (as postagens eram diárias) e minha relação com os parceiros não será mais tão constante. Claro que continuarei arrumando um tempinho para comentar neles, mas peço um pouco de paciência. Obrigado pela compreensão!