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quinta-feira, 19 de março de 2009

2h37


Na capa deste 2h37 podemos observar a seguinte frase: “O melhor filme que aborda a vida de adolescentes. Chocante!”. Bom, para meio entendedor, meia palavra basta. Quem lê esta frase fica se corroendo de vontade de assistir ao filme por achar que vai encontrar algo diferente. Em 2003, Gus Van Sant trouxe a tona a sua obra-prima, Elefante, que recriava a tragédia da Columbine High School – o fatídico dia onde diversos alunos foram assassinados por próprios colegas nos EUA – e mostrava, entrelinhas, o subconsciente dos protagonistas de tal atentado. Gus esmiúça a vida dos dois garotos sem o intuito de tentar arrumar uma desculpa, ou seja, sem a pretensão de responder “por que eles fizeram aquilo?”. Além disso, ele acompanha todo o dia em que se deu o incidente e aproveita para apresentar vários adolescentes com suas angústias e medos. Este sim é o melhor filme que retrata esta fase da vida. 2h37?! Não passa de uma cópia de Elefante com um ou dois pontos do roteiro que diferem da fita de 2003.

O filme, escrito e dirigido por Murali K. Thalluri, começa e termina no mesmo dia. Mostra diversos personagens adolescentes que têm alguns problemas de ordem emocional e, para fazer isso, Murali optou por montar depoimentos dos próprios personagens que são passados ao longo da reprodução (tentou dar um ar documental como há no filme de Gus). Tudo parece girar em torno de Melody (Teresa Palmer) e seu irmão Marcus (Frank Sweet): aparentemente estão meio brigados e o motivo da briga vai ser explicitado no fim do filme e chega a ser chocante de tão forçado. Também temos um jovem que não assume quem realmente é, uma menina que sofre de distúrbios alimentares, um garoto que é o tempo todo reprovado pelos pais e outro que sofre de problemas fisiológicos e, por isso, é motivo de piada. Temos, no entanto, uma sétima pessoa, Kelly, que será o ponto crucial do desfecho. Pelo o que se pode perceber, Murali dedicou o filme a esta sua amiga, Kelly, e desta forma esperamos que o filme mostrasse tudo sobre a garota. Não sei como, ela é a personagem que menos aparece e, no entanto, é por sua culpa que o filme tem esse nome e foi por sua causa que fiquei em choque com o final da fita.

O que não é cópia de Elefante?! Os depoimentos dos jovens e o desfecho. Na realidade, ainda não digeri direito o porquê que ele ocorreu, nem tampouco o porquê de inserir algo tão brutal acerca de Melody e Marcus. A direção, apesar de ser muito competente no que tange o elenco, copia sem dó o que Van Sant fez em seu filme. Por exemplo: por meio de travellings mostra a ação de algum personagem; minutos depois, mostra a mesma cena, mas do ponto de vista de outra pessoa. Os bruscos cortes de planos também são parecidíssimos com os que vimos em Elefante. O que salva este 2h37 – e me perdoe quem gostou do filme, mas está bem claro que não foi o meu caso – é o elenco. A atuação de Teresa Palmer é magnífica, principalmente nos momentos finais. Frank Sweet, Joel Mackenzie (o menino que é reprovado pelos pais) e Charles Baird (o garoto com problemas fisiológicos) também não estão menos que brilhantes. Uma pena ver um elenco tão inspirado num filme tão sem personalidade que tenta inserir artifícios textuais para amenizar a falta de atitude.


Nota: 4,5

2h37; AUSTRÁLIA, 2006; DRAMA; de Murali K. Thalluri; Com: Teresa Palmer, Frank Sweet, Joel Mackenzie, Charles Baird, Sam Harris, Marni Spillane, Clementine Mellor, Sarah Hudson, Gary Sweet, Amy Schapel.

terça-feira, 17 de março de 2009

Especial PTA: Boogie Nights - Prazer Sem Limites

No telefilme Gia – Fama e Destruição nos é exposto o auge e a decadência da carreira da primeira grande top model mundial, Gia Carangi. Em Johnny e June somos apresentados também ao auge e declínio de alguém, neste caso do cantor Johnny Cash. O que os dois personagens principais dos filmes citados têm em comum?! Ambos chegaram ao fundo do poço não só por ações mundanas, mas sim por problemas sérios com drogas. Pode-se dizer que o mesmo será observado em Boogie Nights – Prazer Sem Limites, mas o tema vai muito mais além, pois enfoca o que cada pessoa faz para alcançar a fama, e o fundo do poço parece ser inerente à vida dos personagens. Então, como esta fita de Paul Thomas Anderson coloca a fama e suas conseqüências em evidencia, conseguimos enxergar, mais uma vez, semelhanças com as outras duas películas citadas.

O roteiro de Boogie Nights, escrito pelo próprio PTA, trás a tona, mais uma vez, uma história multinuclear, ou seja, com vários personagens se entrelaçando o tempo todo. Apesar de ser menos complexo que Magnólia, o filme tem um grau de dificuldade em sua exposição, uma vez que nos apresenta o interessante mundo acerca da indústria pornô cinematográfica. Na verdade, Paul opta por ambientar o filme no fim dos anos 70 e começo dos 80, onde os “filmes para adultos” tiveram uma ascensão incrível tanto em termos de qualidade, quanto em termos de público alvo. Mark Wahlberg interpreta Eddie, um garoto que sabe que tem um dom, mas não consegue encontrar seu lugar ao sol, ate que é descoberto pelo cineasta Jack Horner (Burt Reynolds), o qual é conhecidíssimo no ramo pornográfico. Não demora muito e Eddie já está muito a vontade neste ambiente diferente do convencional e nele conhece pessoas muito interessantes como Amber (Julianne Moore), que é atriz pornô mas tem um segredo difícil em seu coração; Brandy também é atriz, mas sofre discriminações na escola por isso; Antony (John C. Reilly), é ator profissional no ramo e Buck (Don Cheadle) que, aparentemente, segue a mesma carreira mas tem sonhos mais abrangentes; Scotty (Philip Seymour Hoffman) que trabalha na parte da produção e se vê apaixonado pelo mais novo astro da companhia, Dirk Diggler (o nome artístico escolhido por Eddie).

O texto divaga por esse mundo peculiar e, por oras, freak e vai mostrando a ascensão de Dirk até chegar ao seu grande auge. Mas como é comum que aconteça – e particularmente não sei dizer o porquê – tudo que sobe um dia deve cair. Dirk vira um viciado em cocaína e vê seu dom cair por terra e, com isso, acaba brigando com Jack e deixando a produtora. O fundo do poço estava preparado para ele, mas um desfecho um tanto quanto paradoxal esta reservado para todos. O mais interessante na direção de Anderson é que, mesmo com o tema, ele não deixa que seu filme tome um caminho pervertido e nem vulgar. É uma direção muito cautelos e esta é uma característica indelével na carreira deste diretor. Ele insere artifícios de câmera que, mesmo vistos novamente em Magnólia, continuam funcionando muito bem. O melhor deles, sem dúvidas, são os longos e maravilhosos travellings, ou seja, tomadas nas quais Paul segue um dado personagem com a câmera, sem cortes, até onde ele for e, por algumas vezes, chega a “trocar” de alvo, recomeçando o ciclo. No mais, mostra mais uma vez a impressionante capacidade de conduzir um elenco como mostrou em todos os filmes, até agora. Mark é ótimo no papel de ator pornô, assim como John C. Reilly. Philip, como sempre, está brilhante e o mesmo posso dizer da genial composição de Julianne Moore. A técnica é muito boa, mas confesso que esperava muito mais de Robert Elswit e sua fotografia. Os figurinos, entretanto, são um charme e mereciam ser levados mais em consideração (Mark Bridges, subestimado figurinista de todos os filmes de PTA).

Mesmo tangendo a esfera do cinema pornográfico, a fita não fica só por aí. Apesar de apresentar alguns conflitos recorrentes na vida de alguns personagens – os quais vão “além ofício” – acredito que o filme é longo demais para o que propõe. Como eu comentei, o desfecho é paradoxal e não vejo outro adjetivo para ele. Ao mesmo tempo em que gostei bastante do final de alguns personagens, fiquei insatisfeito com os de outros, por serem decorrentes de situações um pouco absurdas (o caso de Buck) ou ainda clichês (como o final do próprio Dirk). A partir do desfecho nós podemos concluir que para se encaixar na vida, precisamos passar dos limites e passar por maus bocados; só assim aprenderemos. Muitas vezes podemos tirar proveito da desgraça dos outros e mesmo isso sendo muito imoral, acaba sendo pautado na película. Assim como os demais filmes de Paul Thomas Anderson, este “Prazer Sem Limites” tem complexidades incrustadas em seu cerne, mesmo que não muito difíceis. Mais um ótimo filme de um extraordinário diretor. Aguardem a próxima resenha do especial: falarei sobre o diferente Embriagado de Amor.




Nota: 8,5



Boogie Nights; EUA, 1997; DRAMA; de Paul Thomas Anderson; Com: Mark Wahlberg, Burt Reynolds, Luis Guzmán, Julianne Moore, Don Cheadle, Philip Seymour Hoffman, Heather Graham, Thomas Jane, William H. Macy, John C. Reilly.

domingo, 15 de março de 2009

30 Dias de Noite


O clima dark, remoto e gelado do Alaska ajudou a montar este filme que, por muitos, foi considerado um dos melhores terrores da atualidade. O que acontece é que, desde os primeiros minutos de 30 Dias de Noite, o diretor David Slade faz questão de tentar explicar o porquê de aquelas pessoas viverem de forma tão isolada e esta explicação tenta ser embasada com algumas metáforas infundadas. Durante trinta dias de inverno, a cidade ficará na completa escuridão – o que, de fato, acontece por lá – e durante estes “dias de noite” um grupo de coisas atacará a população local. Refiro-me às “coisas” por que simplesmente não sabemos o que eles são. As sinopses que encontramos nos dizem que é um grupo de vampiros, mas o roteiro não deixa claro se realmente são e, inclusive, de onde vieram.

Eben (Josh Hartnett) é o xerife local e está aparentemente perdido por ter terminado seu relacionamento com Stella (Melissa George), mas a vida dos personagens não vem ao caso. Quando um estranho (Ben Foster como sempre excelente) chega à cidade, fatos estranhos começam a acontecer e tudo indica que ele sabe o que está por vir. Surge então, do nada, um grupo de seres que se alimentam de sangue (ou carne?) humano e obviamente vão dizimar parcialmente o local. Não sabem, porém, qual a relação entre o estranho e o grupo sanguinário. Assim, por trinta intermináveis dias escuros, os sobreviventes terão que se virar para não caírem nas garras dos seres. O desenvolvimento da fita não tem nenhum diferencial: é igualzinho aos demais filmes do gênero que estamos cansados de ver. Não posso negar que algumas sequências são tensas e tomei um ou dois sustos. Porém, tudo desemboca num final que beira o ridículo.

A técnica da película é bem interessante. Jo Willems é certeiro na escolha de ângulos que favoreçam o clima sombrio do filme e faz com que a fotografia seja bastante correta. Não sei bem se aquele vilarejo já existia; se é tudo fruto de um desenho de produção, a direção de arte é sensacional. A maquiagem é competente e os efeitos visuais também. O elenco tenta e se esforça, mas o roteiro (de Steve Niles, Stuart Beattie e Brian Nelson, baseado em quadrinhos de Steve Niles e Ben Templesmith) é confuso e não desenvolve os personagens. Óbvio que sou obrigado a citar, em especial, o subestimado Ben Foster que, pra mim, sempre está maravilhoso no cinema (e não fez por menos na obra-prima televisiva Six Feet Under). Por ser baseado em quadrinhos, o texto deveria ser bem mais claro e coerente, o que está longe de ser. Mesmo sendo tecnicamente bem legal, 30 Dias de Noite torna-se uma tentativa errônea de transpor um material que deve ser muito bom. É só mais um filme com muito sangue e pessoas sendo comidas por seres vindos do nada...


Nota: 5,0

30 Days of Night; NOVA ZELÂNDIA/EUA, 2007; TERROR/SUSPENSE; de David Slade; Com: Josh Harnett, Melissa George, Danny Huston, Ben Foster, Mark Boone Jr., Mark Rendall, Manu Bennett, Amber Sainsbury.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Onde os Fracos Não Têm Vez


A violência. O caos instalado numa terra sem leis. Um caçador encontra uma valise cheia de dinheiro. Um sádico assassino a solta. E um xerife buscando trazer a utópica paz ao local. Estamos no Texas, década de 80, local onde se desenrola o filme dos irmãos Joel e Ethan Coen o qual foi adaptado da obra-prima de Cormac McCarthy (Onde os Velhos Não Têm Vez) e venceu quatro Oscar, incluindo Melhor Filme. O que mais impressiona na obra literária é a densidade da história e a quantidade de metáforas acerca delas e, por isso, o trabalho dos Coen não foi fácil. Eles deixam o conhecido humor negro que sempre utilizam em seus filmes, e abrem as portas para um roteiro frio, pesado e que, a meu ver, acompanha perfeitamente o livro e se faz, assim como ele, pessimista.

Llewelyn Moss (Josh Brolin), é um caçador que, por força do destino, encontra uma mala minada de dinheiro e, não muito longe dali, um massacre no meio do deserto. O caçador, nesta altura, tinha duas certezas: a primeira é que pegaria o dinheiro e a segunda é que, sem a menor dúvida, alguém, mais cedo ou mais tarde, estaria atrás dele para recuperar a quantia. Não pestaneja e leva a valise para seu trailer, mas o tempo todo ele sabe que aquilo não acabaria bem. Começa, então, a ser perseguido por traficantes mexicanos – uma vez que fica claro que a chacina foi decorrente de uma transação que não deu certo – e, como se não bastasse, um matador absurdamente cruel, Anton Chigurh (Javier Bardem), também começa a caçar Llewelyn. No mesmo local o xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones) tenta encontrar Llewelyn antes que Anton o faça, mas logo percebe que, de fato, será um fardo pesado demais uma vez que o matador é astuto e não poupa nenhuma vida. A cada pista seguida, Ed encontra um ou mais corpos que foram brutalmente exterminados, à queima roupa, por Chigurh. Basicamente, a trama do filme é esta. Joel e Ethan, de forma muito respeitosa, transpõem o livro para o cinema de forma exemplar. Os diálogos existentes na obra de Cormac são, em sua maioria, impactantes e os cineastas não pouparam esforços para captá-los e inseri-los na fita ao pé da letra.

Além de um belo roteiro, Onde os Fracos Não Têm Vez conta com uma direção interessante dos irmãos. O primeiro contato que temos com o massacre inicial é impressionante, pois tudo é muito real e isto e afirmado pela total falta de trilha sonora. Além disso, Joel e Ethan preferem por derramar na película algumas metáforas interessantes, as quais sempre são remetidas à nossa sociedade. Como é normal, os Coen desenvolvem seu elenco de maneira singular: Tommy Lee Jones é o xerife cansado, mas é a personificação de esperança – mesmo esta sendo totalmente negada na cena final; Josh Brolin e Kelly Macdonald (que interpreta a namorada de Llewelyn) representam a sociedade “indefesa” que tenta não cair nas garras da personificação da maldade salpicada com violência, Javier Bardem. A montagem segue o ritmo do filme o tempo todo e é bastante correta, assim como a parte sonora. Roger Deakins aproveita a região desértica do Texas e apresenta uma direção de fotografia absurda que, pra mim, quase chega à perfeição. Em suma, tudo gira em torno de algum trâmite que não deu certo e, por essa razão, desencadeará um jogo de vida ou morte, onde sair ferido é o mínimo que pode acontecer.

Gostaria de deixar um parágrafo para o desfecho do filme. Tive a oportunidade de ler a obra, mas fiz isto após ver à fita. Quando fechei o livro, fiquei em estado de choque, pois os diretores sugaram a essência de uma última página pessimista e a despejaram dentro do desfecho do filme o que, a meu ver, é uma sacada genial. Romantizar algo que é impossível de acontecer – no caso, ter um final feliz - é jogada para diretores fracos e bobinhos o que prova, definitivamente, que os Coen são geniais. Tommy Lee Jones faz um discurso no qual descreve uma sociedade pacífica, digna e menos brutal. Queremos apenas não ter nossas vidas decididas por um jogo de cara-ou-coroa, ou ainda não precisamos morrer num simples atravessar de rua. Sonhar com tudo isso não é proibido, o problema é quando acordamos e percebemos que era, de fato, somente um sonho. Assim termina a fábula do terror e da violência extraída com precisão de uma obra literária pelos grandes Joel e Ethan.


Nota: 9,0



No Country For Old Men; EUA, 2007; DRAMA; de Joel e Ethan Coen; Com: Josh Brolin, Javier Bardem, Tommy Lee Jones, Kelly Macdonald, Woody Harrelson.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Herói


Se pararmos para pensar, o cinema asiático tem o costume de ser, em sua grande maioria, espetacular visualmente. E não importa o gênero, já que os filmes que se encaixam neste grupo vão desde os mais dramáticos (como Casa Vazia), passando pelo terror (O Hospedeiro) e desembocando em violência pura e aplicada (como na Trilogia da Vingança). Mas é inegável que as fitas que mais nos proporcionam cenas visualmente deslumbrantes são as que colocam as artes marciais em evidência. São vários os materiais que seguem esta pauta, mas três em especial merecem destaque: O Tigre e o Dragão, O Clã das Adagas Voadoras e Herói. Todos são incríveis, entretanto este último, na minha concepção, é um dos grandes filmes desta década; algo que não chegou à perfeição por muito pouco.

Herói nos remete à China ancestral, ainda dividida nos Sete Reinados. O soberano de uma das províncias (vivido por Daoming Chen), se vê constantemente ameaçado uma vez que suas idéias são muito ambiciosas e seu desejo era conquistar toda a China. Três assassinos em especial despertavam mais pavor no soberano – os quais eram contratados por seus adversários políticos: Espada Quebrada (Tony Leung), Neve Que Voa (Maggie Cheung) e Lua (Ziyi Zhang). Um dia, porém, chega à presença do soberano um homem (Jet Li) afirmando ter matado os três assassinos de elite e, como prova, portava as suas armas. Para tanto, ele explicou que só conseguiu tal proeza por ficar uma década estudando a técnica da espada. A revelação foi bombástica e as armas não bastaram para convencer o “rei”; logo, o homem sem nome começa a contar como as mortes se sucederam e a história começa a se desenrolar.

O mais interessante acerca do roteiro de Herói (escrito por Li Feng, Zhang Yimou e Wang Bin), é que o desespero do soberano não é a pauta principal. Temos muita traição, sedução, amor, ódio e crença dentro do texto. Os roteiristas fazem questão de dar importância à vida dos três assassinos e escrachar suas divergências com os reinados e com eles próprios. Acontece que, depois de expor como aniquilou os temidos vilões, o homem sem nome será vítima da segunda revelação bombástica do filme, a qual será dada pelo próprio “rei”. Faz com que o final seja um pouco confuso, mas ainda assim ótimo. O elenco é muito bom e o destaque vai para Jet Li que está bastante inspirado. Agora, o trunfo supremo desta fita é, sem dúvidas, a estarrecedora direção de Zhang Yimou. Todos os seus filmes – além do espetáculo nas últimas Olimpíadas – são poesias em forma de imagens. Utilizando muitas cores e ângulos que até Deus duvida, ele faz com que Herói seja uma obra-prima visual (fez o mesmo com O Clã das Adagas Voadoras, A Maldição da Flor Dourada e O Caminho Para Casa). A fotografia é algo brilhante e não tenho mais palavras para resumir o trabalho de Christopher Doyle neste aspecto (só sei que é uma das coisas mais lindas que vi na minha vida). Direção de arte e figurino também são notáveis e o som, em sua totalidade, é outro quesito inexplicável. É o típico caso de uma película que atende aos prazeres dos olhos, ouvidos e mente. Mesmo o desfecho sendo um pouco estrambólico, este exemplar chinês é fábula de amor, honra e dever e nos faz pensar no que consiste, de fato, ser um herói.


Nota: 9,5


Ying Xiong; CHINA, 2002; DRAMA/AVENTURA; de Zhang Yimou; Com: Jet Li, Tony Leung, Daoming Chen, Maggie Cheung, Ziyi Zhang.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Há Tanto Tempo Que Te Amo


O mistério acerca de Há Tanto Tempo Que Te Amo será exposto logo nos seus primeiros minutos, quando Juliette (Kristin Scott Thomas) sai da prisão depois de quinze anos presa em regime totalmente fechado. Sua irmã, Léa (Elsa Zylberstein), oferece sua casa para que Juliette possa recomeçar a sua vida, mas o convívio com o cunhado, Luc (Serge Hazanavicius), vai ser complicado no começo justamente por causa do segredo entre as duas irmãs – sobre o qual Luc tem conhecimento. Numa parceria entre França e Alemanha, I’ve Loved You So Long torna-se absurdamente interessante por mostrar os efeitos que o ato de Juliette (o qual a levou à prisão) teve e tem sobre Léa. Desta forma, a fita enquadra em seu centro a relação de duas irmãs – e em dado momento com a mãe – e funciona como um acerto de contas entre elas, mas este no sentido de recomeçar o que há tempos não existia.

No começo, utilizei a palavra mistério e fiz isso pelo seguinte fato: para ficar presa por quinze anos, Juliette cometeu um crime que jamais irá esquecer, mas só saberemos do que se trata quase no fim do filme. A hora em que ocorre a revelação de tal segredo, eu realmente não sabia se chorava ou se ficava paralisado e quieto. É algo dolorido e muito triste que coloca amor e ética em discussão, por isso não comento mais nada sobre o ápice da película. Tudo gira em torno da nova vida a que a personagem de Kristin está submetida e o tempo todo percebemos sua irmã alavancar este recomeço. Com o passar dos dias, Juliette vê na sobrinha - a qual foi adotada e a resposta para esta decisão de Luc e Léa será dada no mesmo instante da revelação de Juliette – uma maneira de ver a vida por outro lado e, relembrando os bons tempos de criança, minimizar a dor que sente e, desta forma, voltar a viver. O diretor e roteirista Philippe Claudel é simplesmente incrível na condução do texto e do elenco. Se o texto fosse exposto de forma crua e direta, a fita seria angustiante, mas Claudel esbanja sensibilidade e, principalmente, cautela.

A técnica é interessante e alguns dizem que existem algumas metáforas acerca da fotografia: céu escuro, casa escura... Tudo denotando uma certa atmosfera nebulosa. Jean-Louis Aubert compõe a trilha que não me agradou muito. Apesar de seguir o tom melancólico e, ao mesmo tempo, sensível da película, escapa pelas mãos do compositor que exagera em alguns dos movimentos. O elenco é maravilhoso, mas não tem como deixar de destacar Kristin Scott Thomas: é um absurdo não vê-la entre as cinco indicadas ao Oscar! Sua Juliette é contida e vemos que ela tomou a personagem para si e viveu tudo aquilo. Sofre o tempo todo com as decisões que Juliette toma e se emociona como se os conselhos de Léa viesses de sua própria irmã, na vida real. Maravilha, espetacular! O elenco de suporte, isto é, coadjuvante, também não faz feio. Elsa Zylberstein foi elogiadíssima pela crítica, mas confesso que sua força só será mostrada lá depois da metade do filme; mas quando vem, é de tirar o chapéu. Tentei entender, durante o filme, o porquê de ter sido tão ignorado nesta temporada. Pra mim, foi a grande surpresa. Um filme forte, mas ao mesmo tempo belíssimo.


Nota: 9,0



Il y a Longtemps Que Je T'aime; FRANÇA/ALEMANHA, 2008; DRAMA; de Philippe Claudel; Com: Kristin Scott Thomas, Elsa Zylberstein, Serge Hazanavicius, Laurent Grévill, Frédéric Pierrot, Claire Johnston, Olivier Cruveiller.

terça-feira, 3 de março de 2009

Especial PTA: Magnólia


Não sabia como começar este texto, pois não me sinto muito digno de falar de um filme como Magnólia. Foi o meu primeiro contato com o cinema de Paul Thomas Anderson e minha primeira experiência com um tipo de cinema que considero bastante artístico e complexo. Geralmente nós dizemos que determinada direção é espetacular, ou que o roteiro é o trunfo, ou ainda que o artista principal está incrível. O caso desta fita vai muito além: a meu ver, Magnólia é, em sua totalidade, um tour de force. Apesar de apresentar aquelas velhas intersecções de pessoas, Anderson escapa de todo e qualquer clichê possível e lança um roteiro que tange várias questões, mas todas sempre terminam no mesmo ponto: a esperança. Logo, ao contrário do que muitos pensam, este filme não apresenta uma visão negativa sobre a vida, muito pelo contrário. É uma ode aos que estão literalmente quebrados, porém terão uma chance de recomeçar.

Algumas pessoas que residem na mesma região da Califórnia terão suas vidas interligadas a todo instante. Paul opta por nos apresentar, de maneira sistemática e coerente, aos personagens para que possamos entender melhor a dura vida de cada um. O programa de televisão “O Que as Crianças Sabem” - onde um grupo de três crianças desafia três adultos - será um aliado forte na busca pela intersecção de alguns dos characters. É por meio dele, que conheceremos Jimmy (Philip Baker Hall), o apresentador do programa que acaba por descobrir que tem câncer; Stanley (Jeremy Blackman), um menino gênio que é a estrela de tal material televisivo; Rick (Michael Bowen), o pai de Stanley, que praticamente usa o filho no intuito de ganhar dinheiro com a inteligência do garoto; Donnie (William H. Macy) o qual foi um dos primeiros recordistas em “O Que as Crianças Sabem” e hoje leva a vida de maneira confusa; e Earl (Jason Robards), o senil produtor do programa que se vê corroído também pelo câncer, mas este em fase terminal. O filho de Earl, Frank (Tom Cruise), é um instrutor para solteiros e cresceu separado do pai por simplesmente odiá-lo. Entretanto, o moribundo pede que seu enfermeiro, Phil (Philip Seymour Hoffman), entre em contato com Frank para reaver a relação paterno-filial, mesmo sendo tarde. Linda (Julianne Moore) é a esposa de Earl que está desesperada com a atual situação do marido, uma vez que se casou com ele por puro interesse financeiro e hoje se vê dominada pelo remorso. Coincidentemente, o apresentador do programa tem uma filha, Claudia (Melora Walters) que também não fala com ele por admitir que o pai abusou sexualmente dela. Claudia é viciada em crack e não demora muito para o policial Jim (John C. Reilly) bater à sua porta após uma queixa de um vizinho. Ele apaixona-se por ela e aqui começará uma certa busca pelo recomeço da moça. Esta é a teia quase que filosófica que torna-se a atmosfera de Magnólia. Algo que transcende a vida, a meu ver.

O filme fala, em suma, da condição humana: as convergências e divergências da vida. A partir de um roteiro muito bem escrito que, aparentemente seria muito complexo e confuso, PTA fez um trabalho magistral. Personagens que muito se assemelham conosco, os espectadores, trabalham de forma visceral mostrando como a vida pode ser ruim ou boa dependendo de simples gestos ou palavras. Magnólia nos mostra que tudo, simplesmente, acontece; não há formas de fugir, mudar ou comprar o inevitável. Pode-se, sim, ignorar a realidade, mas as consequências são ruins. Os personagens são assim. Vivem fugindo de alguma coisa que os persegue até que, num momento de sublime percepção descobrem: estão fugindo de si mesmos. Eles se esbarram, se relacionam, se misturam, se amam e se odeiam, mas são incapazes de apagar seus erros, e o passado. Cada um tem sua história que, claro, não são lá muito alegres. Todos eles, assim como nós, erram. E todos eles sofrem, menos pelos erros, mas sim pela falta do dom de perdoar. Pronto, eis a questão: perdoar e ter esperança para encontrar o alívio. Magnólia não é um filme sobre pecados, como muitos tacharam. É, ao contrário, um filme sobre perdão, mas o perdão demora a vir. Percebam que não chove à toa. Aliás, chove o tempo todo no filme! A chuva vem para lavar a alma dos frágeis personagens, mas a grande chuva (a metafórica) só vai ocorrer quando o ápice de melancolia de todos os personagens se encontrar, coincidentemente, na mesma rua: Rua Magnólia. Esta é, originalmente, uma flor que simboliza a esperança em algumas culturas. Assim, como um desabafo coletivo, como um sorriso, um abraço e um grito parado no ar, o inacreditável acontece: SPOILER sapos caem do céu. E não adianta ficar parado pensando. Estão caindo, e pronto! E por mais estranha que seja a chuva, acontece. Estes anfibiozinhos são paradoxais: ao mesmo tempo em que são asquerosos, são verdes (cor da esperança). FIM DE SPOILER. Então, por mais complicado e desagradável que seja perdoar, o ato é o único que os levará às suas redenções. E óbvio que outra explicação para este fatídico e surreal momento, vem incrustada em passagens bíblicas que são expostas durante o filme. Mas acho mais coerente deixar interpretações que se agarrem na fé por conta de cada um, de forma individual.

Pra deixar tudo ainda mais impressionante, temos as composições de Aimee Mann para esta obra-prima. Três, em especial, são absurdamente pertinentes: “One” (“...Um é o número mais solitário, que você irá encontrar; dois pode ser pior que um; é o mais solitário número, depois do número um...”), “Save Me” (“...Como Peter Pan, ou como o Superman você aparece... para me salvar...”) e “Wise Up” (“...Você está certo de que existe uma cura e que você finalmente a encontrou...”). E quem jamais vai esquecer o momento em que esta última é tocada? É impossível! O bruto elenco, cada qual entoando a parte que lhe cabe da música. Mas as frases mais aguniantes são ditas por Stanley, uma frágil criança, e por isso acho tão forte: “...Então, simplesmente desista!”. Este elenco vem para deixar a fita ainda mais fenomenal. Todos são personagens importantíssimos, mas é claro que um ou outro merece maior destaque. Julianne Moore, William H. Macy e Melora Walters compõem personagens de maneira irretocável e, pra mim, são os destaques. Mas é claro que, com o comando de Paul Thomas, o elenco é ótimo. E vemos, claramente neste filme, que ele é um fiel seguidor do gênio Robert Altman: sempre jogando com intersecção de pessoas e inserindo complexidade e sensibilidade na trama (vide a masterpiece de Altman, Short Cuts – Cenas da Vida). Ou seja, guiado pela luz de um gênio, Paul Thomas Anderson, com este Magnólia, apresenta ao público seu primeiro trabalho impecável (outro veio, oito anos depois). Esta película desafia a condição humana e escracha indagações que, se respondidas, mostrarão o verdadeiro caminho do autoconhecimento e, principalmente, a estrada para alcançar, regidos pela esperança, a felicidade.





Nota: 10,0


Magnolia; EUA, 1999; DRAMA; de Paul Thomas Anderson; Com: Philip Baker Hall, Jeremy Blackman, Michael Bowen, William H. Macy, Jason Robards, Tom Cruise, Philip Seymour Hoffman, Julianne Moore, Melora Walters, John C. Reilly.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Esclarecimento sobre O Lutador


Há umas semanas atrás, eu escrevi meu texto sobre o novo filme de Darren Aronofsky, O Lutador. Não neguei que o filme é excelente, mas atribuí uma nota 8,0 ao longa, assim como afirmei ser o trabalho mais fraco de Darren. Para ter pensado desta forma, assisti ao filme duas vezes, mas no computador. Mas na semana passada, encucado com alguns aspectos que provavelmente não ficariam evidente na tela do pc, resolvi revê-lo, mas desta vez no cinema. E é impressionante como tudo muda na tela grande, não?! Discordo de mim mesmo e admito que The Wrestler é um belíssimo filme e que não é o trabalho mais fraco do diretor. É, sim, um dos melhores filmes da temporada! Alguns podem pensar que fui influenciado por comentário positivos demais ao filme, mas podem ficar tranquilos que meu pensamente é bastante "imutável" e procuro o tempo todo não ser influenciável. Deixo vocês com a música mais injustiçada da década: a magistral "The Wrestler", de Bruce Springsteen. Também aproveito para promover a canção "By the Boab Tree" de Angela Little para o filme Austrália que, pra mim, é tão fascinante quanto a de Bruce.

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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O Casamento de Rachel


Querendo ou não, algumas confusões familiares em dia de festa sempre são inevitáveis. E os ânimos se exaltam mais ainda quando nestes encontros alguns segredos ou lembranças do passodo vêem à tona. O Casamento de Rachel – um dos filmes mais subestimados da temporada – mostra alguns dias que precedem o enlace matrimonial de Rachel (Rosemarie DeWitt) e Sidney (Tunde Adebimpe) até chegar à tão esperada data. Entretanto, o clima, que até então era de felicidade, muda bruscamente com a chegada da irmã da noiva, Kym (Anne Hahaway), que acaba de sair da reabilitação para viciados em drogas. Entretanto, o roteiro já começa nos enganando: achamos que tudo o que seguirá será decorrente deste problema dela com as drogas, mas na verdade a moça carrega consigo um histórico de conflitos pessoais e familiares, que aos poucos se manifestam e são expostos.

Jenny Lumet é brilhante ao escrever um texto que vai muito além de confusões familiares por motivos bobos. Aqui, elas se agarram a um fato ocorrido no passado o qual foi protaginizado por Kym e trouxe consequências terríveis para ela e a família. Este fato também virá para explicar algumas atitudes tomadas por alguns dos membros do clã durante a fita. Vemos muitos temas e sentimentos diferentes por aqui, como problema com drogas, ciúmes, tristeza, um casamento totalmente diferente do convencional que nos mostra um pouco de uma cultura indiana. Filmando quase que o tempo todo com a câmera na não, Jonathan Demme, apesar de dar um ar real a película, não deixa que a frieza tome conta de tudo, mesmo com cenas duras. Na verdade, ele insere uma sensibilidade incomum ao filme e instrui o elenco para que sejam intensos em tempo integral. Antes disso é válido lembrar que Jenny constrói cada personagem com muita cautela e percebemos que, mesmo fazendo parte da mesma família, cada um é muito diferente e peculiar que o outro.

Não por ser independente, mas tecnicamente não há exageros. Temos o que é necessário e esse necessário, por oras, conduz o filme a um tom meio paupérrimo demais (a fotografia poderia ter sido mais explorada, assim como a trilha sonora). Mas não tem problema: é um material feito por um texto excelente, comandado por uma direção correta e que toma forma por um elenco magistral. Rosemarie DeWitt é ótima como a noiva paradoxal que, mesmo amando a irmã, provoca cenas de ciúme de forma implícita. Debra Winger (a mãe ausente das meninas), em três ou quatro cenas – sendo uma delas belíssima onde temos uma conversa entre ela e Kym – faz algo incrível. Mas devo admitir que, do elenco coadjuvante, não tem pra ninguém: Bill Irwin, interpretando o pai de Rachel e Kym, chega pra nos deixar de queixo caído em cada momento que aparece. É zeloso, culpado, feliz e a mistura de vários outros sentimentos de um pai que só quer ver as filhas vivendo bem e superando o “problema-chave” do filme. Indicada ao Oscar de Melhor Atriz, Anne Hathaway tornou-se minha favorita aos 48 do segundo tempo. Como pode uma atriz tão jovem compor uma personagem tão intensa e complexa como ela fez?! Cada olhar, cada nuance, cada lágrima derramada... Anne é impressionante! Com a ajuda de tudo que eu já citei de positivo, encanta a todos. Os cinéfilos que gostam de cinema independente denso e cheio de qualidade, esta é uma ótima pedida.


Nota: 8,5

Rachel Getting Married; EUA, 2008; DRAMA; de Jonathan Demme; Com: Anne Hathaway, Rosemarie DeWitt, Debra Winger, Bill Irwin, Mather Zickel, Anna Deavere Smith, Tunde Adebimpe.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Irma La Douce / Desafio Oscar 2000


Dia 27 de Março de 2002 o mundo perdeu o que era, pra mim, um dos melhores roteiristas que já existiu e também um dos diretores mais geniais, Billy Wilder. Quase que o tempo todo apelando para contos envolventes, ele não deixava de inserir humor aos filmes, mas sempre com uma originalidade sem tamanho. Poderia ficar aqui falando sobre Se Meu Apartamento Falasse, Pacto de Sangue, Farrapo Humano, A Mundana, O Pecado Mora ao Lado, A Montanha dos Sete Abutres e Crepúsculo dos Deuses. Mas o amigo Otavio, do Hollywoodiano, pediu para que eu divagasse sobre uma das obras mais simples e, ao mesmo tempo, complexas de Billy: Irma La Douce.

Numa Paris não muito distante do nosso tempo (mentira, um pouco distante sim), existia um “contrato” entre prostitutas, cafetões e policiais, segundo o qual os dois primeiros davam “contribuições” à autoridade local, pois prostituição é crime – e assim, todos ficavam felizes. Acontece que o certinho policial Nestor Patou (o sempre espetacular Jack Lemmon) faz uma ronda no “ponto das meninas”, acaba fazendo a coisa certa e, por esse motivo, é demitido (Billy escracha a corrupção nas autoridades). Naquela rua, de pronto, conheceu e se apaixonou por Irma (Shirley MacLaine até então linda) e, desempregado, acaba tornando-se seu cafetão. Entretanto, a sua paixão por ela é tão forte à ponto de não admitir que Irma vá para a cama com outro homem além dele. Desta forma, com a ajuda de Moustache (Lou Jacobi), dono de um bar, Nestor se disfarça como um rico lorde inglês para se passar por cliente de Irma e, assim, tê-la só para ele. Ao passo que Patou consegue tudo o que queria, Irma desconfia que ele não sente mais interesse por ela – já que ele sente-se cansado por assumir dois papéis numa só vida. Uma briga entre o casal e a posterior eliminação do lorde inglês resultará numa situação absolutamente incomum e hilária. Não tem como rir e, paradoxalmente, ficar nervoso com a situação proposta por Wilder a partir daí. Os atos do filme, aliados a um desfecho ótimo, só ratificam a genialidade deste homem no que diz respeito aos seus escritos e sua postura atrás das câmeras.

O mais interessante no filme, além é claro dele como um todo, é o elenco. Jack Lemmon foi um dos melhores atores que pude ver em cena e, apesar de não ser um de seus melhores papéis, seu Nestor é fantástico. Um homem certinho que se vê numa atmosfera totalmente diferente da qual estava habituado a viver. A grande estrela do filme é Shirley MacLaine que incorpora toda a sensualidade e frieza de uma prostituta que, ao mesmo tempo, é doce e meiga. Provou ter um talento indiscutível, além de estar no auge de sua beleza (infelizmente não posso dizer o mesmo hoje, pois é só assistir ao telefilme Coco Chanel e vê-la toda “plastificada”). Alguns aspectos técnicos são de extrema relevância e devem ser mencionados como o “desenho fotográfico” de Joseph LaShelle. A fotografia do filme é maravilhosa e parece, de fato, desenhada. As cores vibrantes são fruto de belos figurinos (Orry Kelly – responsável também pelas peças de Quanto Mais Quente Melhor e de Sinfonia de Paris, seu trabalho mais notável). Alexandre Trauner foi o responsável pela direção de arte, que é muito coerente, principalmente a disposição de mobília e objetos no hotel. Mas não tem como; o trunfo supremo deste Irma La Douce é seu roteiro. Resta-me dizer: oh, Billy Wilder! Como o senhor faz falta!


Nota: 8,0


Irma La Douce; EUA, 1963; DRAMA/ROMENCE/COMÉDIA; de Billy Wilder; Com: Jack Lemmon, Shirley MacLaine, Lou Jacobi, Bruce Yarnell, Herschel Bernardi, Hope Holiday.
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Também aproveito este post para atender ao pedido do Cleber (Cineclub) e postar - além, é claro, de comentar - a minha lista ideal nas categorias de Melhor Filme e Direção no Oscar 2000. Vamos lá:

Melhor Filme



>>>Magnólia, de Paul Thomas Anderson<<<
Beleza Americana, de Sam Mendes
A História Real, de David Lynch
Tudo Sobre Minha Mãe, de Pedro Almodóvar
Quero Ser John Malkovich, de Spike Jonze
Menção Honrosa: Clube da Luta, de David Fincher

O filme de Fincher acabou perdendo a indicação para o de Jonze, na minha avaliação. Mas por muito pouco, confesso. Não entendo o porquê de colocar Regras da Vida num pedestal. É um belo filme, com um bom elenco; mas não merece indicação à filme e direção. O Informate é instigante, interessante e bem feito. Entrou fácil no top 10, mas não no 5. O mesmo falo de À Espera de Um Milagre. Magnólia é obra-prima, simples assim. Beleza Americana é uma pequena obra-prima, simples assim de volta. Tudo Sobre Minha Mãe é uma das obras-primas de Pedro... opa, novamente simples assim. Os outros dois, Quero Ser John Malkovich e A História Real, não chegam no patamar máximo, mas muito perto.



Melhor Direção

>>>Sam Mendes, Beleza Americana<<<
Paul Thomas Anderson, Magnólia
David Fincher, Clube da Luta
Pedro Almodóvar, Tudo Sobre Minha Mãe
Spike Jonze, Quero Ser John Malkovich
Menção Honrosa: David Lynch, A História Real

Os trabalhos de direção, neste ano, foram espetaculares. Mas não teria como deixar Mendes sem o prêmio, ainda mais sendo a sua estréia oficial. O que ele faz em American Beauty é fascinante, pesado, escrachado, brilhante! O mesmo posso dizer dos demais indicados. Vale lembrar que muitos acham que o trabalho de Lynch foi fácil no belo A História Real, mas se engana quem diz isso. Um diretor largar completamente seu estilo (a complexidade) e mergulhar num roteiro tão sensível e simples não é fácil.

Agora é com vocês! Quem quiser fazer a lista, sinta-se à vontade.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Retrô American Idol - Parte II


Já estamos no fim da etapa on stage em Hollywood e devo confessar que esta temporada promete bastante. Enquanto não chegamos ao top 12, continuo com a parte II da last season.

* David Archuleta
Todos que assistiam ao programa comigo adoravam e dariam a vitória a este garotinho de apenas 17 anos, até então. Eu, como já disse anteriormente, acho David chato, bobinho e sua voz me dá muito sono. Teve lá algumas boas apresentações, mas ficar para a final, junto com Cook, foi uma viagem de ácido. Melhor apresentação: "Imagine" (John Lennon).

* Ramiele Malubay
Esta garota era uma graça! É pequenina, graciosa e super meiga. Mas quando solta a voz, mostra algo gigantesco! Saiu cedo, eu confesso, mas não entraria no meu top 5 por um motivo: ela era muito imatura. Melhor apresentação: "Against All Odds (Take a Look at Me Now)" (Phil Collins).

* Amanda Overmyer
A cada apresentação de Amanda eu delirava. Uma rockeira espetacular que merecia ter ficado entre os três melhores com certeza. Com uma voz intensa e muito diferente e com aquele olhar que todos conheciam, ela sempre chegava para arrasar. Uma pena que foi eliminada justo por uma de suas melhores apresentação ("Back in the U.S.S.R"). Melhor apresentação: "You Can't do That" (The Beatles).

* Chikezie
Ele sempre me deixava com um sentimento meio bittersweet; apesar de achar sua energia no palco incrível, sempre detestava as suas desafinadas. Há quem diga que deveria ter sido o grande vencedor, mas discordo totalmente. Mereceu sair quando saiu. Melhor apresentação: "She's a Woman" (The Beatles).

* David Hernandez
Quando anunciaram que Hernandez tinha sido eliminado eu parei e, de pronto, pensei: "WTF???????". Grande cator, extremamente original e que, se vencesse, eu não reclamaria. O cúmulo do ridículo ter saído tão cedo. Melhor apresentação: "In the Midnight Hour" (Wilson Pickett).

* Kristy Lee Cook
Bom, momento crítico. Sim, eu adoro a Kristy. Sim, eu tenho os dois CDs dela. E sim, ela está no meu top 5! Aquela voz aguda e absurdamente country me conquistou de forma incrível e, discordando de 90% dos fãs do programa, não acho que ela desafinava tanto. Melhor apresentação: "Anyway" (Martina McBride)

Desta forma, meu top 5 seria - em ordem de preferência:

1. Carly Smithson
2. Amanda Overmyer
3. Brooke White
4. Michael Johns
5. Kristy Lee Cook

Com uma menção mais que honrosa ao David Hernandez o qual deve-se sentir parte deste top.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Violência Gratuita (2007)


Em Onde os Fracos Não Têm Vez, os irmãos Coen apresentam um conto sobre as raízes da violência e chegam a personificá-la no personagem de Javier Bardem. Pesadelo Americano também utiliza a violência como pauta, mas ainda temos o aparecimento de um final mais positivo. Stanley Kubrick ousou em sua obra-prima Laranja Mecânica abordando o mesmo tema, mas de forma ainda mais impressionante, crua e fria não só por meio de um belo roteiro, mas sim por uma técnica de cores fantástica. Não assisti à primeira versão de Violência Gratuita, mas a sua refilmagem, a meu ver, é incrível. Além de um roteiro tão ousado e complicado quanto os dos demais filmes citados - quando me refiro à abordagem sobre violência; o diretor Michael Haneke, juntamente com o diretor de arte Hinju Kim, chegou a fazer referência diversas vezes a A Clockwork Orange.

O casal Ann (Naomi Watts) e George (Tim Roth), juntamente com o filho Georgie (Devon Gearhart), resolvem começar as férias numa casa à beira de um lado e têm planos de se divertirem muito. Mas o que era para ser perfeito na vida de uma família se tornará um verdadeiro caos em questão de segundos, quando dois estranhos, Paul (Michael Pitt) e Peter (Brady Corbet), invadem a casa e sujeitam a família a inimagináveis situações, todas absurdamente inconvenientes e violentas. Os dois jovens são evidentemente perturbados e durante todo o filme explicam com vários argumentos o porquê estão fazendo aquilo – todos embasados em insanidade. Michael Haneke abre as portas e deixa que o realismo entre e permaneça no seu thriller, de modo que nos sintamos tão atingidos pelas frases dos garotos quanto o próprio casal. Paul e Peter jogam com eles próprios em algumas passagens e chegam a questionar a existência violência no mundo. Em dois momentos, de maneira genial, Paul fala com o espectador, bolando um jogo de perguntas e respostas. O desfecho não poderia ser mais pessimista, direto e, paradoxalmente, fenomenal.

A direção de Haneke, pra mim, é de uma força máxima. Alguns de seus planos são obras-primas, como o que precede o desfecho do filme: uma sequência impressionante e assustadora de quase vinte minutos. O roteiro mostra que violência e insanidade são separadas, na maioria das vezes, por uma linha muito tênue e que entre elas, estão as vítimas. Como disse na introdução, temos uma menção frequente ao clássico de Kubrick, Laranja Mecânica. As cores utilizadas pelo diretor de arte e, principalmente, a ironia e vestimentas dos dois garotos, lembram muito o filme. Não sei por que, mas isso não me agrada. Naomi Watts é uma das minhas atrizes preferidas e gosto muito do seu papel aqui, mesmo que aquém da atuação de sua carreira em 21 Gramas. Tim Roth e o menininho Devon Gearhart estão corretos, mas os maiores elogios vão para os vilões Michael Pitt e Brady Corbet: são quase como caricaturas do mal. Insanos, reais, desumanos; duas grandes composições. A fita me deixou sem respirar por diversas vezes e gostaria muito de encher o texto de spoiler para citá-las. Se algum de vocês quiser que eu exemplifique essas cenas, mande um e-mail para o contato que está aí ao lado ou sei lá, manda sinal de fumaça!


Nota: 9,0


Funny Games U.S; EUA/Reino Unido/França, 2007; SUSPENSE; de Michael Haneke; Com: Naomi Watts, Tim Roth, Michael Pitt, Brady Corbet, Devon Gearhart.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Retrô American Idol - Parte I


Alguns podem achar que o tema central do blog é Cinema. Mas o título já induz a pensarmos que realmente teremos um pouco de tudo e, desta forma, vou fazer uma breve retrospectiva da última temporada do American Idol; programa este no qual sou um tantinho viciado. Resolvi fazer isso porque a oitava temporada já começou e está na fase das audições – da qual não sou tão fã – e very soon, para os que acompanham pelo canal Sony Entertainment (assim como eu), chegará a fase dos semifinalistas e posteriores finalistas. Pois bem, vamos aos primeiros seis finalistas da season 7 (os demais em outro post):

* David Cook
Do Missouri para o mundo, o rock star foi o vencedor da última temporada. Desbancou o chatinho e bobinho David Archuleta que, na verdade, parece estar fazendo mais sucesso que Cook. Mereceu vencer? Não era meu favorito, mas sem dúvida é um ótimo cantor. Sua melhor apresentação: “Billie Jean” (Michael Jackson).

* Syesha Mercado
Com uma das mais potentes vozes da temporada, Syesha era uma grande concorrente. Sempre muito teatral e artística, ela foi muito bem, mas acredito que seus exageros vocais foram os responsáveis por sua eliminação. Melhor apresentação: “One Rock & Roll Too Many” (Starlight Express).

* Jason Castro
Era o queridinho de vários espectadores, mas o mais fora da realidade, a meu ver. Sua voz é muito boring e dava muito sono. Teve uma apresentação legal aqui e acolá, mas no geral teria saído bem cedo se fosse que quem decidisse. Melhor apresentação: “Hallelujuah” (Jeff Buckley).

* Brooke White
Ela entrou fácil no meu top 5 da season. Sempre afinada e com a voz rouca, ela esbanjava alegria e talento. Não posso mentir, já que ela foi ousada algumas vezes (como pedir para recomeçar a canção em duas ocasiões), mas me emocionei em várias de suas apresentações. Vale lembrar que o seu álbum (Songs From the Attic) é maravilhoso! Melhor apresentação: “You Must Love Me” (Evita).

* Carly Smithson
Pra mim, seria a vencedora! Belíssima voz, carismática e com um excelente domínio de palco. Ouso dizer que apenas não gostei de umas duas apresentações dela, pois achei a maioria incrível. Vale lembrar que Carly nem sequer chegou ao top 5... Já que seria a minha vencedora, citarei duas apresentações: “Blackbird” (The Beatles) e “Superstar” (Jesus Christ Superstar).

* Michael Johns
No começo eu não gostava dele. Achava que não tinha voz e que não conseguiria evoluir na competição. Mas me enganei e feio, pois este é outro que entrou no meu top 5. Com um estilo rock romântico, ele arrancou lágrimas dos fãs em diversas apresentações. Talvez a voz mais firme da season. Melhor apresentação: “Dream On” (Aerosmith).

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O Sorriso de Mona Lisa


Até hoje tendo entender por que a grande maioria dos cinéfilos detesta este filme. Assisti-o algumas vezes para ver se não era coisa de fã, uma vez que acho Julia Roberts uma ótima atriz. Acabou que, como eu esperava, a minha admiração pela fita não tem nada a ver com a presença desta atriz, mas sim por ter um enredo muito interessante e extremamente bem desenvolvido e pertinente. Falar sobre o ser feminino numa época onde mulheres, em alguns lugares do mundo, eram “fabricadas” pelas escolas para serem donas-de-casa exemplares é um fardo no mínimo difícil. Mas o diretor Mike Newell (do excelente Quatro Casamentos e Um Funeral e do horrível O Amor nos Tempos do Cólera) utiliza uma sensibilidade incomum e contorna alguns erros existentes no roteiro de Lawrence Konner e Mark Rosenthal, fazendo render um filme muito bonito. Aproveito a deixa do Denis (CINEMANÍACO) e vou divagar sobre este meu guilty-pleasure!

Aulas de etiqueta, postura, fala, artes e tudo o que faz parte do mundo de uma mulher perfeita são os programas de aprendizagem recorrentes no conceituado colégio Wellesley somente para moças. Cabe à idealista professora de Artes Katharine Watson (Julia Roberts) tentar mudar a visão de futuro destas garotas, dentre elas Betty Warren (Kirsten Dunst), Giselle Levy (Maggie Gyllenhaal), Joan Brandwyn (Julia Stiles) e Connie Baker (Ginnifer Goodwin). Entretanto quebrar paradigmas em Wellesley é uma missão um tanto quanto impossível, pois é rodeada por um corpo docente conservador, em sua maioria. A personagem que personifica a “mulher-robô fabricada” na escola é a professora Nancy Abbey (Marcia Gay Harden) a qual é uma deslumbrada e passa esse deslumbre quase que matrimonial para suas alunas. Com diálogos muito bem escritos e, por oras, impactantes, acredito que o filme se apresente como uma crítica ao machismo daquela época que, segundo algumas visões, perdura até hoje. Vale lembrar que acho o desfecho extremamente apropriado que, entrelinhas, mostra o trabalho de Katharine Watson quase que fracassado. Mesmo assim, admito que o roteiro contém erros irreparáveis.

O elenco mostra-se afiadíssimo e isso se estende até à Kirsten Dunst que, a meu ver, ainda é meio limitada. Maggie Gyllenhaal e Marcia Gay Harden se destacam perfeitamente como coadjuvantes e cada uma consegue caracterizar suas personagens de forma impecável. Julia Roberts é ótima no papel, mas nem de longe atinge sua excepcional atuação em Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento (e, em verdade, até prefiro-a em Perto Demais). Adoro as composições doces de Rachel Portman (como em A Duquesa e Chocolate) e aqui minha admiração só aumentou: a trilha é linda. Anastas N. Michos é um fotógrafo não muito competente, mas aqui ele mostra um talento jamais visto em sua filmografia (que une filmes como Mulheres...O Sexo Forte e O Mundo de Andy) e o mesmo posso dizer de Patricia Woodbridge com sua magnífica direção de arte. Para desenhar e criar os belos figurinos precisou-se juntar três estilistas (Michael Dennison, Carmen Hawk e a fantástica Milla Jovovich) o que rendeu, como já dito, algo maravilhoso. Assim sendo, percebe-se minha admiração incorruptível pela técnica desta fita. E mesmo eu não dando muita ênfase ao roteiro, vejo alguns exageros em sua construção que, se não fossem contornados pelo diretor, fariam de O Sorriso de Mona Lisa um filme péssimo.



Nota: 8,0


Mona Lisa Smile; EUA, 2003; DRAMA/ROMANCE; de Mike Newell; Com: Julia Roberts, Maggie Gyllenhaal, Marcia Gay Harden, Ginnifer Goodwin, Kirsten Dunst, Topher Grace, Donna Mitchell.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Enfim, Juntos


Virou moda criar e adaptar histórias em que a intersecção de personagens ocorre. Vimos este molde dar certo em Magnólia, mas também vimos dar errado em Babel. Geralmente o que desencadeia o erro é o excesso de pretensão inserido no roteiro. Construir eventos ou fatos mirabolantes e/ou utópicos também é normal em fitas deste tipo. Pois saibam que Enfim, Juntos quebra todos os paradigmas e utiliza a união de personagens de forma simples e belíssima.

O filme foi adaptado do livro homônimo de Anna Gavalda pelo roteirista Claude Berri (infelizmente falecido neste mês), que também o dirige. Começamos com uma apresentação dos quatro personagens principais que aparentemente não têm nada em comum - fora o fato de todos eles serem completamente sozinhos e incapazes de viver integrados na sociedade. Se formos pensar bem, o normal é que eles não se conheçam para dar mais fôlego ao roteiro, correto? É, mas vejamos: Camille (Audrey Tautou) é faxineira, tem um relacionamento conturbado com a mãe e mora no mesmo prédio que Philibert (Laurent Stocker) o qual vende postais num Museu. Junto com Philibert mora Franck (Guillaume Canet), um cozinheiro tão solitário quanto sua avó Paulette (Françoise Bertin) que após quebrar o fêmur passa a viver numa “casa de reabilitação” (vulgo asilo) que odeia. Este é o “quarteto fantástico” e percebam que eles são conhecidos um dos outros e, mesmo assim, suas histórias irão se cruzar. A maneira segundo a qual isto ocorre é levada de forma tão natural pelo diretor que, por oras, achei estar realmente vivendo e interagindo com cada um deles. Numa vontade desesperada de apresentar algo interessante, mais uma vez Berri não acolhe clichês em sua fita e cria situações que vão desde as mais hilárias até as mais expressivamente iluminadas pela emoção.

A cena mais bela e, consequentemente o ápice do filme, é ministrada por uma fotografia espetacular em tons claros e brilhantes, embalada pela deliciosa canção “La Bicyclette” e levada por um elenco totalmente à vontade e mais talentoso do que nunca. Audrey Tautou está incrível, assim como Guillaume Canet; mas quem rouba a cena de forma sensacional são Laurent Stocker (interpretando um ator gago!) e Françoise Bertin (a senil fofíssima). Uma boa parte das filmagens é feita dentro do apartamento dos meninos e ,aqui, a direção de arte também reina suprema: móveis clássicos bem no estilo francês, paredes em tons de dourado e um clima artístico muito interessante. A película, enfim, é uma celebração à vida, ao amor, à amizade. Uma grande pena que um excelente diretor e roteirista como Claude Berri tenha nos deixado. Fica aí, a minha homenagem...


Nota: 9,5


Ensemble, C'est Tout; França, 2007; DRAMA/ROMANCE; de Claude Berri; Com: Audrey Tautou, Guillaume Canet, Françoise Bertin, Laurent Stocker, Alain Sachs, Firmine Richard.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Pequena Miss Sunshine


Sou um adorador do cinema independente, e vejo que este tem sido muito valorizado de uns tempos para cá, o que é muito interessante. No meio de um filme policial (Os Infiltrados), de um bélico (Cartas de Iwo Jima), de outro que retrata soberania (A Rainha) e de um drama pesado, porém pretensioso (Babel), está essa deliciosa comédia “largada”, mas de extrema valia.

Obviamente que nenhuma família é normal, mas a família Hoover vai além deste conceito: Olive (Abigail Breslin) é a caçula gordinha e de óculos que sonha em ganhar um concurso de beleza; Richard (Greg Kinnear) é o pai obcecado pelo método de auto-ajuda que criou o qual, diga-se de passagem, é um fracasso; o pai de Richard (Alan Arkin) é viciado em heroína; Dwayne (Paul Dano), o filho mais velho, está na adolescência feroz e fez um voto de silêncio; Sheryl é a mãe (Toni Collette), que sempre tenta ponderar e acalmar essa família incomum; para fechar o clã, há o irmão de Sheryl, Frank (Steve Carell), um homem que acaba de sair de uma clínica por tentar suicídio. Certo dia, Olive é convidada para participar do tão sonhado concurso de beleza, porém eles terão uma longa viagem até lá. Imaginem esta simpática família em "aparente" crise, viajando por vários quilômetros dentro de uma kombi! Esta é a atmosfera de Pequena Miss Sunshine, ou com um título bem mais apropriado, ‘Família à Beira de Um Ataque de Nervos’.

Muitos o classificam como uma comédia que contém certa carga dramática; eu acho o contrário: um belo drama sobre uma família desestruturada que alcança a felicidade; as cenas cômicas servem como um amortecedor, visando uma digestão prazerosa do filme. Percebam, então, que o roteiro tende única e exclusivamente à originalidade e o responsável por ele é Michael Arndt. O escrito é trabalhado minuciosamente em cima de diálogos inteligentes e muito comoventes. Além destes, há várias belíssimas cenas que vão desde a descoberta de que Dwayne é daltônico e, com isso não poderá ser piloto de aviões (aqui, Paul Dano dá um show), até a cena final onde ocorre a apresentação de Olive no concurso. Assim, com um texto desses em mãos, os diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris conseguem conduzir a película muito bem e acertam na tarefa de transpô-lo para as telonas. Simplesmente o filme não é provido de uma parte técnica (direção de arte, fotografia, maquiagem...) incrivelmente bem desenvolvida por um simples motivo: ele não necessita. Em verdade, devo destacar a trilha sonora, a qual é perfeita. É o tipo de fita que é feita por um elenco afiado, um roteiro redondinho e uma direção competente.

Vejo Pequena Miss Sunshine como um filme necessário, uma vez que é inevitavelmente uma lição de vida. Com uma apresentação singular dos personagens, ele, sem intenção, faz com que o espectador se identifique com algum deles. Poderia ser recheado de clichês e lições de moral caretas, mas ao invés disso trata-se de um filme extremamente positivo por demonstrar os valores que uma família realmente deve seguir, uma vez que, o importante na vida não é se sujeitar a uma participação em um concurso fútil que pretende transformar jovens garotas em modelos prematuras, mas sim, com o apoio e união de toda uma família, ser o mais original e transparente possível. Um amigo meu se refere aos Hoover como "uma família autodestrutiva", mas calma! Eles são legais!


Nota: 9,0


Little Miss Sunshine; EUA, 2006; DRAMA/COMÉDIA; de Jonathan Dayton e Valerie Faris; Com: Abigail Breslin, Greg Kinnear, Toni Collette, Paul Dano, Alan Arkin, Steve Carell.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A Felicidade Não Se Compra


Não tem como falar de Natal sem lembrar-se de alguns filmes clássicos da época. Mas um em especial sempre me emociona, não importando se é a vigésima vez que o assisto. Para os que não sabem, antes de receber cinco indicações ao Oscar, "A Felicidade Não Se Compra" foi um fracasso de bilheteria. Curioso, já que hoje o filme é tido como um dos melhores da história e, na minha lista, faz parte do top 5 de todos os tempos. O mais fabuloso de tudo é que o diretor Frank Capra não apela para violência, fortes conflitos, tensão dramática constante ou cenas para nos fazer chorar. Prima somente para o simples e fala de conceitos básicos e inerentes a todo ser humano: bondade, generosidade, amor, honestidade, compaixão. Vou além e digo que o filme o tempo todo nos apresenta contrastes, personificados pelos personagens George Bailey (James Stewart) e Henry Potter (Lionel Barrymore). Este conteúdo pode ser, inclusive, chamado de visionário pois tudo o que é mostrada no filme, hoje é realidade e numa escala ainda maior.

Em Bedford Falls, no Natal, George Bailey (“o comunista”, por que não?), que sempre ajudou a todos, pensa em se suicidar saltando de uma ponte, em razão das maquinações do capitalista Henry Potter, o homem mais rico da região. Mas tantas pessoas oram por ele que Clarence (Henry Travers), um anjo que espera há 220 anos para ganhar asas, é mandado à Terra, para tentar fazê-lo mudar de idéia. Na verdade, o longa começa com os pedidos de oração a George e uma conversa entre dois seres celestiais sobre a sua vida. Somos apresentados ao protagonista desde a sua infância e logo percebemos que ele é a personificação de três grandes sentimentos: bondade, generosidade e compaixão. Capra já ousa optando por uma história não linear, o que não era comum na época, e vai além: apresenta, em dado momento do filme, uma cena congelada o que jamais se havia visto. Já aproveito para inserir meu comentário sobre o magistral elenco, com destaque para James Stewart numa das mais belas atuações masculinas que já vi. Merece destaque também, a esposa do protagonista vivida pela super simpática Donna Reed. Durante a espetacular caracterização de George, percebemos perfeitamente que o filme é uma discussão entre até onde vale a pena termos nossas vidas manipuladas pelo dinheiro e o quão maravilhoso é ter amigos e pessoas que nos amam. Percebemos também que o personagem de James Stewart sempre viveu para fazer o bem aos demais e esqueceu-se da sua vida. Quando “cai na real”, vê-se tomado pelo desejo de suicidar-se e é nesse ponto que o filme aproveita para discutir seus temas: o que é melhor, ter muitos amigos ou se aproveitar das pessoas por causa do capitalismo e faturar em cima de seus sonhos? Será que nossas ações passam despercebidas por Ele lá em cima? Será que quando encontramos um amor de verdade devemos embarcar nele ou deixá-lo para trás com medo do futuro? São temas discutidos de maneiras diferentes. Ao invés de termos um aprofundamento claro durante as cenas, elas simplesmente vão acontecendo e você vai absorvendo suas intenções mesmo que inconscientemente. Tudo isso fica reforçado pelo excelente roteiro, que apresenta diversos argumentos sobre uma felicidade que o dinheiro simplesmente não pode comprar – e aí entra uma tradução perfeita para o título "It’s a Wonderful Life", que apesar de não ser exata ou literal, encaixa-se perfeitamente na idéia que o filme quer discutir.

Ao encontrar-se com seu anjo da guarda, George deseja jamais ter nascido e o anjo concede o desejo. Tudo para que o protagonista perceba como sua vida era, de fato, fabulosa – mesmo com os problemas do cotidiano. E vale lembrar que, mais uma vez, fica evidente o brilhantismo do roteiro, já que somos levados a um palco totalmente diferente do qual estávamos acostumados durante a reprodução: tudo havia mudado, uma vez que George não existia. Mais uma vez está na hora de ele “cair na real” e, numa das mais lindas e simples cenas que já vi, George Bailey (pai de quatro filhos, marido de uma excelente esposa, filho de uma mulher fantástica e irmão de um herói de guerra) profere a frase: “Deus! Eu quero minha vida de volta!”. E numa comum, mas iluminada noite de Natal, um milagre vindo do Céu acontece. E convenhamos que não há noite melhor para que sonhos se realizem e milagres ocorram.


Nota: 10,0


It’s a Wonderful Life; EUA, 1946; DRAMA; de Frank Capra; Com: James Stewart, Donna Reed, Lionel Barrymore, Thomas Mitchell, Henry Travers, Beulah Bondi, Frank Fayden, Todd Karns.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Saindo do Armário


Este meu texto será um pouco diferente dos demais. Não tem como não discorrer sobre este filme se não vier com a crítica algum debate sobre questões sociais. Sendo o mais direto possível, Saindo do Armário fala de homossexualidade, isto é, trata de como é difícil assumir quem você realmente é – no caso homossexual – numa sociedade absurdamente preconceituosa (ou pelo menos uma boa parte dela). Indo mais além, a fita entra lá no fundo da mente de um jovem, gay, que mesmo sabendo que é, não se auto-aceita, ou pior, finge que é fácil ser gay. Bom, espero que meu texto não chateie vocês, mas vamos lá.

Escrito por Patrick Wilde e dirigido por Simon Shore, o filme conta a história de Steven (Ben Silverstone), um garoto que aos 16 anos tem a dificuldade de assumir a homossexualidade e, por ironia do destino, se vê apaixonado pelo garoto mais cobiçado da escola, John (Brad Gorton). A única pessoa que sabe que Steven é gay é a sua avoada vizinha Linda (Charlotte Brittain em atuação fabulosa), a qual o tempo todo insiste que o menino se liberte e seja quem realmente é. Mas estamos num ambiente conservador, em Londres, num colégio onde tudo é correto. Para complicar, Steven é filho único e tem a infelicidade (sim, no sentido negativo mesmo) de seus pais terem planejado um futuro brilhante para ele: ser o melhor aluno, casar com uma boa mulher, ter filhos e ser bem sucedido. Mas calma aí! Onde falha este plano de vida se ele assumir que é gay? Steven pode continuar sendo o melhor aluno, pode casar, pode ter filhos e ser bem sucedido. Entretanto, muitos não entendem que ser homossexual não é uma doença ou algum tipo de maldição. Continuando... No decorrer da fita, Steven descobre que John está confuso sobre sua sexualidade, mas é mais complicado. Ele é o mais famoso da escola, atleta, homem até que provem o contrário (mas nenhum de seus amigos faria isso, pois era uma certeza). Segue-se assim, um aparente casal onde um irá ajudar o outro a superar o preconceito social e o auto-preconceito.
Steven entra para a revista da escola quando vence um concurso por um artigo que escreveu sobre “A Sociedade Perfeita” (o artigo é uma prova a sua dificuldade de auto-aceitação). Mas quando sua angústia está no auge, ele escreve uma carta anônima para revista, contando a sua história e quão difícil é se firmar em qualquer lugar, na sua condição. O diretor da escola, óbvio, não deixa que a carta seja publicada e eles resolvem deixar uma página em branco, na revista, com uma faixa escrito CENSURADO. A página, com certeza, retrata a nossa sociedade. No dia que Stevem irá receber o prêmio pelo artigo, resolve por a boca no trombone e dizer que ele escreveu a carta e, num momento complicadíssimo do filme, desabafa e dá uma aula sobre preconceito diante de todos. E os seus pais? Algo que a mãe dele diz ao pai já responde a pergunta: “Ele é nosso filho e nós o AMAMOS. Ele precisa do nosso APOIO”. O filme mostra basicamente o conflito psicológico na mente dos dois rapazes, mas acima de tudo ataca com socos e pontapés muita gente.

Uma pessoa que mata não é tão desprezada quanto uma pessoa homossexual. Por quê? A resposta para esta pergunta ainda é desconhecida e muitos consideram que uma discussão acerca disso seria complexa demais. O que tem de complexo? É um ser humano como qualquer outro, mas que tem uma opção sexual diferente, pronto... fim de papo! Mas calma. Digo que não é difícil em termos de sociedade, mas em termos individuais, ou seja, particulares é muito complicado, já que não envolve só aceitação de terceiros. Parece, pois, que o preconceito se dissemina até chegar num “patamar social” acima do nosso. Vamos falar de alguns filmes que retratam a homossexualidade e que são de qualidade: O Segredo de Brokeback Mountain, C.R.A.Z.Y – Loucos de Amor, Meninos Não Choram, Billy Elliot, Meu Amor de Verão. Todos ótimos ou pelo menos bons, certo? Por que raios não foram aceitos pelo público em geral? E ainda, falando do prêmio que move o cinema, por que a Academia não premiou estes filmes como mereciam? Já que o assunto é muito “complexo” para ser discutido, que a resposta fique em segredo – mesmo sabendo qual é. Gus Van Sant e seu Milk que se cuidem, ou podem cair no mesmo grupo dos injustiçados que citei. Peço perdão se falei demais, mas acho que é algo importante e que não deve ser tido como um grande tabu em pleno século XXI. Também espero que não tenha ferido ninguém com alguma palavra, já que minha intenção não era esta, mas sim dizer que cada qual é LIVRE para ser o que quiser e tem o direito a esta liberdade.


Nota: 7,5


Get Real; Inglaterra, 1998; DRAMA; de Simon Shore; Com: Ben Silverstone, Brad Gorton, Charlotte Brittain, Stacy Hart, Kate McEnery, Patrick Nielsen, Tim Harris, James D. White.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Em Segredo


Muitas vezes vamos à locadora e nos ensaiamos para alugar certo filme e, na verdade, sempre optamos por outro. Isso ocorreu comigo em diversos momentos com o filme Em Segredo (parceria entre Alemanha, Bósnia-Herzegovina, Croácia e Áustria), mas por esses dias um canal de televisão anunciou esta fita e não pensei duas vezes para assisti-la. De antemão digo que é um material extremamente bem feito e belíssimo.

Escrito e dirigido por Jasmila Zbanic, o filme conta a história de Esma (Mirjana Karanovic): uma mãe solteira que cria uma filha adolescente (Luna Mijovic) num complicado ambiente pós-guerra (Guerra dos Bálcãs) e, desde o começo, percebemos que ela tem um segredo o qual está guardado em seu coração. Ela cria a filha, Sara, admitindo que o pai da garota foi um herói de guerra – já que morreu pelo país; e, para Sara fazer uma viagem com a escola, Esma precisa arranjar o dinheiro ou conseguir um certificado que comprovasse o heroísmo do pai, o que garantia desconto na viagem. Mas a mulher percebe que seria mais fácil conseguir o dinheiro e, para isso, começa a trabalhar durante e madrugada numa casa de shows. A menina sente que a mãe esconde algo acerca do pai e começa a se mostrar uma adolescente mais complicada do que imaginamos, vivendo, assim, aventuras perigosas com um colega da escola. O mais interessante no roteiro é que saímos do ambiente materno-filial e entramos no mundo particular de cada uma das protagonistas, ou seja, Jasmila nos faz mergulhar pela mente destas duas pessoas que estão sofrendo, sem uma saber da outra, pelo mesmo motivo. Estas sub-histórias servem como uma tentativa de viver, mesmo num clima de pós-guerra e com um sentimento de dúvida sobre um passado que ainda não foi exposto. Iremos saber o verdadeiro segredo de Esma já nos instantes finais da fita e a cena é extremamente forte e surpreendente.

Como é de se esperar de um material vindo do Leste Europeu, temos uma fotografia fria e em tons de cinza, denotando a nebulosidade do passado da protagonista. A diretora primou por utilizar a dupla (Mirjana e Luna) sempre no máximo que conseguiam, isto é, pode-se dizer que mesmo em atuação contida, é tour de force. Sou amante do cinema europeu justamente por ele ir direto ao ponto, na grande maioria das vezes. E Niki Mossböck (Edição) não inventa artifícios mirabolantes para a película, mas sim usa de algo enxuto e competente, mostrando somente o que deve ser mostrado. Um filme brilhante que não cai em clichês por tratar de vidas no pós-guerra. Algo que nos conquista com a simpatia dos personagens e que nos emociona com a seqüência final que é lindamente conduzida.


Nota: 9,5


Grbavica; Alemanha/Bósnia- Herzegovina /Áustria/Croácia, 2006; DRAMA; de Jasmila Zbanic; Com: Mirjana Karanovic, Luna Mijovic, Leon Lucev, Kenan Catic, Jasna Beri.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Pânico na Floresta 2


Antes que vocês se questionem, não! Este filme não foi nenhuma surpresa agradável. Já vou direto ao ponto dizendo que é uma das piores coisas que vi em anos. O primeiro filme (Pânico na Floresta, 2003) é até assistível, mas ainda assim péssimo. Diferente de vários outros filmes de terror atuais, Pânico na Floresta 2 consegue ser clichê, retardado, nojento e, resumindo, extremamente mal feito. Vou encher o texto de passagens da fita e podem ler, pois não faz diferença alertar sobre spoiler. O roteiro, de Turi Meyer e Al Septien, conta a “inovadora” história de seis jovens que irão participar de um reality show no meio de uma floresta. Nesta existe uma família de pessoas que sofreram contaminação radioativa e, desta forma, são absurdamente deformadas e, obviamente, gostam de comer carne humana. Temos a atmosfera do filme: um bando de jovens no meio do mato sendo, um a um, mortos e comidos.

O filme começa com uma das participantes do reality show perdida numa estrada, perto da casinha feliz dos canibais (uau! Que coincidência!) e, para a surpresa de todos, ela atropela um dos assassinos. A moça vai socorrê-lo e ele arranca um pedaço da boca dela, enquanto o outro, com um super machado, ataca-a verticalmente, dividindo-a ao meio (cena hilária número 1). Outra belíssima cena é quando duas das participantes encontram a casinha deles e acabam acompanhando o parto de um bebê canibal (cena hilária número 2). Não posso deixar de mencionar que o apresentador do programa é um sargento do exército todo fortão que será capturado, mas conseguirá fugir. Além disso, ele encontra, do nada, um balde cheio de dinamites e resolve explodir os habitantes da floresta. Começa fazendo isso com o pai de um dos deformados que empunha uma arma em mãos e esta, depois da explosão do homem, continua intacta e SEM UMA GOTA DE SANGUE (cena hilária número 3). Lembram da moça que foi dividida no começo? Então, ela vira churrasco e três participantes acabam achando a carne assada e pensam ser carne de porco. Comem tudo, mas o espertão acaba vendo a tatuagem da menina no meio da carne... vomitam, sem dúvida (cena hilária número 4). Rolei de rir, também, quando o canibal chefe está tentando matar um cara, estrangulado, e a máscara que o ator usa desloca-se, sem querer, do rosto - nada de máscaras propositais; era a maquiagem mesmo. (cena hilária número 5)! Enfim, a fita até conseguiu alcançar uma humilde nota a qual foi decorrente das gargalhadas que dei e por uma das atrizes que tenta ser legalzinha. Termino citando o diálogo mais impressionante do filme:
- O que eles são?
- São pessoas, como você. Só que tão feios quanto as trutas que estão no rio
.”


Nota: 0,5


Wrong Turn 2; Canadá, 2007; TERROR; de Joe Lynch; Com: Erica Leerhsen, Henry Rollins, Crystal Lowe, Texas Battle, Daniella Alonso, Ken Kirzinger, Aleksa Palladino, Steve Braun, Matthew Currie Holmes, Kimberly Caldwell, Jeff Scrutton, Wayne Robson.