Danny Boyle é o tipo de diretor que já se aventurou em diversos gêneros e preferi conferir toda a sua filmografia antes de ver o seu novo trabalho. Infelizmente faltou um único filme (Cova Rasa), mas os demais eu pude conferir e, até o momento, achei que nada pudesse bater o excelente Extermínio. Sendo direto, digo que Slumdog Millionaire não o superou, mas sim se igualou a ele em termos de nota e genialidade. Posso, inclusive, dizer que podemos observar várias semelhanças entre as filmagens de Slumdog Millionaire, Extermínio e Trainspotting – Sem Limites: Boyle já tem sua marca registrada que é uma certa estilização visual, o que deixa o ritmo de seus filmes bem frenético.
Este novo trabalho do diretor inglês tem vencido vários prêmios importantes nesta temporada 2009 e a sua última consagração ocorreu no Globo de Ouro. A fita nos apresenta Jamal (Dev Patel) e seu irmão Salim (Madhur Mittal), os quais são moradores de uma favela indiana e, certo dia, assistem de camarote à morte de sua mãe por bandidos locais. Conhecem, então, Latika (Freida Pinto) que também ficou sozinha depois do ataque criminoso e, desta forma, os três tentarão sobreviver numa Índia em extrema expansão populacional, numa época onde a pobreza reinava. Depois de serem explorados por Maman (Ankur Vikal) – que teria prometido ajuda a eles, ainda crianças – eles fogem, mas Latika não consegue fazer o mesmo. Vale lembrar que o período em que eles ficam “prisioneiros” deste bandido, é extremamente brutal e triste. Os dois irmãos, agora, vivem enganando turistas o que os leva a pequenos furtos e, trocando em miúdos, encontram novamente Latika e é neste momento que Salim vira, de fato, um bandido. Durante praticamente toda a infância dos garotos, fica claro que Jamal é apaixonado por Latika, mas por ironia do destino, ele é separado dela pelo próprio irmão. O filme começa com o protagonista num programa de perguntas e respostas que pode render um prêmio de vinte milhões de rúpias. Sabemos, também, que Jamal venceu o programa e que as respostas para as perguntas estão guardadas na memória do garoto, incrustadas em alguma lembrança (esta idéia é genial). Mas como e, mais importante, por que um garoto quase sem instrução intelectual foi se aventurar num programa como esses? Saberemos quase no final e é realmente muito interessante. Ok, podem dizer... é um roteiro clichê e piegas, concordo.
Aqui, entra a minha pergunta-chave: como pode, então, um filme neste formato estar abocanhando todos os prêmios e conquistando os mais chatos críticos? A resposta é Danny Boyle. O diretor esbanja talento, contorna todas as cenas clichês e constrói uma das direções mais notáveis que vi em anos. Modela o roteiro, de modo que as cenas óbvias e até bobinhas fiquem fantásticas e, assim, monta um belíssimo filme. Este é o trunfo absoluto desta película extremamente competente no que propõe. Alguns compararam a direção de Boyle com a de Meirelles em Cidade de Deus; mas espera um pouco... baseado em quê?! Em termos de retratar uma história na favela (Meirelles não foi pioneiro nisso) ou no que diz respeito à movimentação de câmeras e cores em geral? Acho que não. Lá em 1996 Danny já apresentou algo no estilo do filme nacional com Trainspotting – mas óbvio, no que se refere à estilização de cena e modo de filmagem. E claro, em termos visuais “Slumdog” é um raro exemplar. A fotografia prima por cores fortes, brilho, luz e se faz perfeita. A montagem é outro grande aspecto, já que não temos uma história linear e cada tomada é gerada com muita cautela, mas sempre deixando o ritmo frenético em evidência. A parte sonora é notável, principalmente a mixagem do som e, até que enfim, chegamos num momento que eu esperava: a trilha sonora. Já ouvi comentários de outros blogueiros e amigos afirmando que a trilha de A.R Rahman para o filme é a melhor da temporada. Discordo, e muito. Já pude ter o prazer de escutar a composição de Alexandre Desplat para O Curioso Caso de Benjamin Button e digo que esta é realmente muito superior. Rahman não faz nada errado, já que a música tem tudo a ver com o filme, mas não me conquistou no geral (admito que Jai Ho é ótima – inclusive ela é o fundo musical dos créditos que, por muitos foi odiado, mas eu vejo como uma homenagem ao povo indiano). Esqueci de mencionar o elenco, mas digo que ele é somente correto; salvo Patel que realmente é bom ator (mas, sinceramente, que viagem de ácido foi essa de classificarem o garoto como coadjuvante?). Slumdog Millionaire, concluindo, é, segundo Rubens Edwald Filho, “o encontro entre Hollywood e Bollywood”. Mas acredito que tudo é maquinado aos modelos da nova, e já genial, indústria cinematográfica indiana. Vemos muito mais da Índia, que dos Estados Unidos nesta fita.
Nota: 9,0
Slumdog Millionaire; Inglaterra, 2008; DRAMA/ROMANCE; de Danny Boyle; Com: Dev Patel, Madhur Mittal, Ankur Vikal, Freida Pinto, Anil Kapoor.
Este novo trabalho do diretor inglês tem vencido vários prêmios importantes nesta temporada 2009 e a sua última consagração ocorreu no Globo de Ouro. A fita nos apresenta Jamal (Dev Patel) e seu irmão Salim (Madhur Mittal), os quais são moradores de uma favela indiana e, certo dia, assistem de camarote à morte de sua mãe por bandidos locais. Conhecem, então, Latika (Freida Pinto) que também ficou sozinha depois do ataque criminoso e, desta forma, os três tentarão sobreviver numa Índia em extrema expansão populacional, numa época onde a pobreza reinava. Depois de serem explorados por Maman (Ankur Vikal) – que teria prometido ajuda a eles, ainda crianças – eles fogem, mas Latika não consegue fazer o mesmo. Vale lembrar que o período em que eles ficam “prisioneiros” deste bandido, é extremamente brutal e triste. Os dois irmãos, agora, vivem enganando turistas o que os leva a pequenos furtos e, trocando em miúdos, encontram novamente Latika e é neste momento que Salim vira, de fato, um bandido. Durante praticamente toda a infância dos garotos, fica claro que Jamal é apaixonado por Latika, mas por ironia do destino, ele é separado dela pelo próprio irmão. O filme começa com o protagonista num programa de perguntas e respostas que pode render um prêmio de vinte milhões de rúpias. Sabemos, também, que Jamal venceu o programa e que as respostas para as perguntas estão guardadas na memória do garoto, incrustadas em alguma lembrança (esta idéia é genial). Mas como e, mais importante, por que um garoto quase sem instrução intelectual foi se aventurar num programa como esses? Saberemos quase no final e é realmente muito interessante. Ok, podem dizer... é um roteiro clichê e piegas, concordo.
Aqui, entra a minha pergunta-chave: como pode, então, um filme neste formato estar abocanhando todos os prêmios e conquistando os mais chatos críticos? A resposta é Danny Boyle. O diretor esbanja talento, contorna todas as cenas clichês e constrói uma das direções mais notáveis que vi em anos. Modela o roteiro, de modo que as cenas óbvias e até bobinhas fiquem fantásticas e, assim, monta um belíssimo filme. Este é o trunfo absoluto desta película extremamente competente no que propõe. Alguns compararam a direção de Boyle com a de Meirelles em Cidade de Deus; mas espera um pouco... baseado em quê?! Em termos de retratar uma história na favela (Meirelles não foi pioneiro nisso) ou no que diz respeito à movimentação de câmeras e cores em geral? Acho que não. Lá em 1996 Danny já apresentou algo no estilo do filme nacional com Trainspotting – mas óbvio, no que se refere à estilização de cena e modo de filmagem. E claro, em termos visuais “Slumdog” é um raro exemplar. A fotografia prima por cores fortes, brilho, luz e se faz perfeita. A montagem é outro grande aspecto, já que não temos uma história linear e cada tomada é gerada com muita cautela, mas sempre deixando o ritmo frenético em evidência. A parte sonora é notável, principalmente a mixagem do som e, até que enfim, chegamos num momento que eu esperava: a trilha sonora. Já ouvi comentários de outros blogueiros e amigos afirmando que a trilha de A.R Rahman para o filme é a melhor da temporada. Discordo, e muito. Já pude ter o prazer de escutar a composição de Alexandre Desplat para O Curioso Caso de Benjamin Button e digo que esta é realmente muito superior. Rahman não faz nada errado, já que a música tem tudo a ver com o filme, mas não me conquistou no geral (admito que Jai Ho é ótima – inclusive ela é o fundo musical dos créditos que, por muitos foi odiado, mas eu vejo como uma homenagem ao povo indiano). Esqueci de mencionar o elenco, mas digo que ele é somente correto; salvo Patel que realmente é bom ator (mas, sinceramente, que viagem de ácido foi essa de classificarem o garoto como coadjuvante?). Slumdog Millionaire, concluindo, é, segundo Rubens Edwald Filho, “o encontro entre Hollywood e Bollywood”. Mas acredito que tudo é maquinado aos modelos da nova, e já genial, indústria cinematográfica indiana. Vemos muito mais da Índia, que dos Estados Unidos nesta fita.
Nota: 9,0
Slumdog Millionaire; Inglaterra, 2008; DRAMA/ROMANCE; de Danny Boyle; Com: Dev Patel, Madhur Mittal, Ankur Vikal, Freida Pinto, Anil Kapoor.
16 comentários:
Kau, devo assistir "Slumdog Millionaire" ainda hoje, mas posso dizer que concordo com uma opinião sua. A trilha de Alexandre Desplat para "O Curioso Caso de Benjamin Button" é melhor que a que o A.R. Rahman realizou. Gosto do trabalho do indiano - acho o resultado bem original - mas a trilha de Desplat me conquistou mais. Sem falar que ele devia ter aquele Oscar que foi para o Gustavo Santaolalla.
Pelo menos sabemos que teremos um filme polemico para debater até o dia do Oscar até o final.
Mas ruim, isso ele nunca será ...
Nem se preocupe com isso amigo ...
Abraços de Urso!
Fala Kauê, pois é cara...também não gostei muito do trailer...postei só por postar, mesmo!
E sobre Slumdog Millionaire...Estou querendo ver, mais só quando chegar em dvd.
Abraços....
KAU, VC VIU ESSE FILME VIA DOWNLOAD?
Matt, acho que vc vai gostar. E realmente a trilha de Desplat é magnífica! Um show para a alma!
João, é normal termos divergências de idéias rsrsrsrsrs. Mas uma coisa é certa: vou morrer dizendo que a dancinha final é simpática. Abração!!
Thiago, assista mesmo que em DVD. É muito bom! Abraços.
Denis, o Paul Torrent trouxe sim hahahahahahahaha. Não aguento de curiosidade.
Agora que assisto mesmo "Slumdog Millionaire". Eu já esperava que o maior destaque do filme fosse mesmo a direção de Boyle. Não vejo a hora de chegar o Oscar... Abraço!
Deve ser o máximo esse filme!
Pensei que tivesse gostado bem mais do que eu, mas pelo visto não. Acho que a principal diferença de opinião foi quanto a direção do Boyle, pela qual eu não tive uma admiração tããão grande como você teve. Como disse, achei tudo no ponto, tudo bonitinho, tudo legal, e o resultado geral é realmente esse: satisfatório.
No mais, a Freida Pinto é uma das atrizes mais lindas que já vi e "Jai Ho" é extremamente grudenta.
[]s!
Também dei essa mesma nota para "Slumdog Millionaire" e concordo com muita coisa do que você disse aqui. Não sabia que o povo não gostava daquela cena final (achei excelente), se bem que já está rolando um preconceito danado contra o filme - provavelmente só porque ele é um favorito natural a "best picture".
DE-TES-TO Extermínio, e acho um crime comparar Slumdog com ele.
Por mim, o único filme a chegar perto desta obra, na carreira de Boyle, é justo aquele no qual ele começou a nos dar pistas sobre seu estilo: Caiu do Céu (Millions).
Nossa nota foi parecida, diferença pouca.
Rafael, o filme é muito bom! Você vai curtir. Abraços!
Pedrão, ele é o máximo!
Jeff, acho a direção de Boyle maravilhosa por conseguir corrigir os clichês. E Freida é linda, mas não tem lá muito talento... Abraços!
Régis, por enquanto Benjamin Button e Gomorra são os melhores filmes do ano com a mesmíssima nota. Slumsog vem logo atrás. E sim, a trilha de Desplat é uma obra de arte.
Vinícius, né? A dança, com a excelente Jai Ho, é muito simpática e acompanha aqueles créditos fenomenais!
Ti, eu realmente adoro Extermínio e sabia que vc ia ratiar hahahahahahaha. Caiu do Céu é adorável e concordo que Boyle já mostrava seu estilo ali.
Régis, eu já acho Trainspotting excelente. Mostra o ambiente de viciados em heroína de forma incrível. O filme fala de auto-destruição... muito legal, hahahaha.
Olá, Kau! tudo bem?
E que surpresa está sendo este filme em premiações, né? Mas ouço falar sobre o título nacional: "Cachorro Favelado", espero que não seja verdade. rsrs. Mas verei quando lançar por aqui, parece ser muito bom mesmo! ;)
Beijos e tenha um ótimo fim de semana!
Mayara, tudo bem e vc?
Tenho PAVOR desse título! Acho pejorativo demais... Beijos!
e um viva aos Torrents mais uma vez.
heheheheh
Viva, Jennis!!!!!!
Postar um comentário