Nos primeiros segundos de Rio Congelado, estréia de Courtney Hunt como roteirista e diretora, somos apresentados a Ray (Melissa Leo) em um momento de profunda tristeza: sentada em seu carro e fumando de forma compulsiva, ela mostra as marcas do tempo em seu rosto e derrama uma lágrima. Já nas cenas seguintes sabemos o porquê do desespero silencioso da mulher: seu marido acaba de roubar as economias da família – ele é viciado em jogos – e, consequentemente, o salário dela é insuficiente para criar os dois filhos que mal têm o que comer. Complicado e triste, né? Para deixar tudo ainda mais comovente, sabem o que o filho mais novo, Ricky (James Reilly) de cinco anos, pediu de Natal para o Papai Noel? Uma casa, enquanto outras crianças pedem os mais caros brinquedos... Além de tudo, o filho mais velho, T.J. (Charlie McDermott), é praticamente o modelo de família de Ricky e tenta ser o pai que está em falta.
A fita surpreendeu a todos e conseguiu duas indicações ao Oscar neste ano, nas categorias de Melhor Atriz (Melissa Leo) e Melhor Roteiro Original (Courtney Hunt). O texto de fato é extremamente bem desenvolvido e Hunt procura o tempo todo encontrar mais peças de um quebra-cabeça. Explico: o filme não é centrado em apenas uma história. Um dia, ao sair para procurar o marido, Ray conhece Lila (Misty Upham), uma descendente de índios Mohawk que também luta para sobreviver. Logo, ao passo que somos apresentados aos problemas familiares mais particulares de Ray, também somos guiados pela dura vida da moça que vive sob pressão, num território indígena que segue uma autarquia. Embora a afinidade entre elas não seja gigante, se unem – cada uma buscando alcançar um objetivo – e começam a exercer uma atividade ousada e estritamente perigosa: transportar imigrantes ilegais do Canadá para os EUA através do congelado Rio St. Lawrence. Durante tais transportes conhecemos a dura realidade dos ilegais e, principalmente, percebemos claramente a frieza que mantém o sistema de travessia. Apesar de esperado, o desfecho é muito tocante, realista e, principalmente, mostra que não há desculpas quando fazemos algo que vai contra a lei, seja de que instância for.
Não tem e sinto falta de uma fotografia esperta que usufruísse das belas planícies congeladas dos Estados Unidos, comecinho do Canadá. A trilha sonora acompanha toda a saga das duas mulheres e se faz, quase que o tempo todo, meio angustiante e quer saber?! Poderia ser um filme totalmente sem composição musical. Na verdade, toda a técnica da película não é desenvolvida; é tudo somente correto, sem nenhum diferencial. O destaque vai para a dupla Melissa e Misty que são ótimas em cada cena. Para ser bem sincero, a atuação de Leo - que já era para ter uma indicação ao Oscar pelo seu genial desempenho em 21 Gramas - é notável, mas não entendo o porquê de tantos cinéfilos a colocarem acima de algumas candidatas, até porque ainda não é presença garantida na minha lista de melhores atrizes da temporada. Disputa uma vaga – de duas restantes – com Sally Hawkins, Kristin Scott Thomas e Anne Hathaway (Meryl, Kate e Angelina são lock). Agora, o que fez a película perder nota me deixou chateado: Hunt é estreante em roteiro e direção, ok. Escreveu um belo material, mas parece que escorrega na própria água! O tempo todo me perguntei se era mesmo texto e direção da mesma pessoa, pois a imaturidade e alguns erros de Courtney na condução do filme são claros. No geral, uma fita extremamente ousada no argumento e bem atuada, mas que tropeça no próprio pé.
Nota: 7,5
Frozen River; EUA, 2008; DRAMA; de Courtney Hunt; Com: Melissa Leo, Misty Upham, James Reilly, Charlie McDermott, Michael O’Keefe, Mark Boone Junior.
A fita surpreendeu a todos e conseguiu duas indicações ao Oscar neste ano, nas categorias de Melhor Atriz (Melissa Leo) e Melhor Roteiro Original (Courtney Hunt). O texto de fato é extremamente bem desenvolvido e Hunt procura o tempo todo encontrar mais peças de um quebra-cabeça. Explico: o filme não é centrado em apenas uma história. Um dia, ao sair para procurar o marido, Ray conhece Lila (Misty Upham), uma descendente de índios Mohawk que também luta para sobreviver. Logo, ao passo que somos apresentados aos problemas familiares mais particulares de Ray, também somos guiados pela dura vida da moça que vive sob pressão, num território indígena que segue uma autarquia. Embora a afinidade entre elas não seja gigante, se unem – cada uma buscando alcançar um objetivo – e começam a exercer uma atividade ousada e estritamente perigosa: transportar imigrantes ilegais do Canadá para os EUA através do congelado Rio St. Lawrence. Durante tais transportes conhecemos a dura realidade dos ilegais e, principalmente, percebemos claramente a frieza que mantém o sistema de travessia. Apesar de esperado, o desfecho é muito tocante, realista e, principalmente, mostra que não há desculpas quando fazemos algo que vai contra a lei, seja de que instância for.
Não tem e sinto falta de uma fotografia esperta que usufruísse das belas planícies congeladas dos Estados Unidos, comecinho do Canadá. A trilha sonora acompanha toda a saga das duas mulheres e se faz, quase que o tempo todo, meio angustiante e quer saber?! Poderia ser um filme totalmente sem composição musical. Na verdade, toda a técnica da película não é desenvolvida; é tudo somente correto, sem nenhum diferencial. O destaque vai para a dupla Melissa e Misty que são ótimas em cada cena. Para ser bem sincero, a atuação de Leo - que já era para ter uma indicação ao Oscar pelo seu genial desempenho em 21 Gramas - é notável, mas não entendo o porquê de tantos cinéfilos a colocarem acima de algumas candidatas, até porque ainda não é presença garantida na minha lista de melhores atrizes da temporada. Disputa uma vaga – de duas restantes – com Sally Hawkins, Kristin Scott Thomas e Anne Hathaway (Meryl, Kate e Angelina são lock). Agora, o que fez a película perder nota me deixou chateado: Hunt é estreante em roteiro e direção, ok. Escreveu um belo material, mas parece que escorrega na própria água! O tempo todo me perguntei se era mesmo texto e direção da mesma pessoa, pois a imaturidade e alguns erros de Courtney na condução do filme são claros. No geral, uma fita extremamente ousada no argumento e bem atuada, mas que tropeça no próprio pé.
Nota: 7,5
Frozen River; EUA, 2008; DRAMA; de Courtney Hunt; Com: Melissa Leo, Misty Upham, James Reilly, Charlie McDermott, Michael O’Keefe, Mark Boone Junior.
12 comentários:
Gosto muito de bons textos. É artigo de luxo atualmente! Me parece bem interessante! Já estreou por aqui?
Abs!
Acho que minha nota para o filme será a mesma. Sem dúvida é um bom filme, mas nada muito espetacular. Alguns aspectos me incomodaram bastante, sendo o maior destaque as atuações mesmo. Abs!
Bom, esse vai ficar como aquele famoso filme que tirou a indicação de Kristin ao Oscar!
Mas parece ser interessante sim!
Como não vi, nem esse, nem o da Kristin vou calar-me!
Kauê, passanso só para avisar que estou sem tempo para ler seus post e de outros amigos, mais em breve, pretendo tirar o atrasa, tá. Desculpe!
Até mais!
Ainda não assisti Rio Congelado, mas darei um jeito de assistir logo.
Você sabe quando vai passar o IOUSA no GNT? Ele foi exibido no Festival do Rio mas acabei perdendo. :(
O Homem Equilibrista é bom sim, vale a pena conferir!
abração!
Engraçado que não vi muita grandeza no roteiro de "Rio Congelado". Para mim, a situação da família de Leo é uma série de maniqueísmos. Tudo bem que o grande "espetáculo" do roteiro não está na família dela propriamente, mas em seu envolvimento com a atravessadora. Ok, até aí tudo bem, mas não consegui ver este "espetáculo" todo. Achei apenas bom. O final, este sim é surpreendentemente bom. E a atuaçao de Leo foi apenas boa para mim, nada de mais.
Um abraço!
Olá, Kau! Tudo bem?
Meu primo baixou para mim "Rio Congelado" e irei assistí-lo neste fim de semana, depois passo aqui e digo o que achei, ok?
Beijos! ;)
Dudu, que eu saiba ainda não estreou. O Paul Torrent trouxe, rs. Abs!!
Vinícius, exatamente. Nada de espetacular. Abs!
Cassiano, tb não vi Kristin, mas pelo oq falam ela está MUITO superior à Melissa.
Thiago, no problem. Aguardo sua volta. Abs!
Pedro, assista Rio Congelado que é muito bom. E o documentário, não sei qndo passa. Vou pesquisar e te aviso. Abs!!
Weiner, eu achei ousadérrima a idéia de Hunt filmar algo misturando ilegalidade "normal" com ilegalidade indígena. Mostrar travessias ilegais tendo como pano de fundo a vida de duas mulheres absolutamente diferentes e, ainda, os costumes indígenas é maravilhoso. E sobre Leo, até concordo! Abs!
Mayara, claro! Espero seu comentário. Beijos!
O que mais me interessa neste filme é justamente ver a união de duas mulheres que estão na mesma situação de vida e buscam uma saída para seus problemas. Mas, confesso que me preocupo com sua observação do último parágrafo... Esperava ver um filme forte e bem executado.
Beijos!
Kau, eu adorei esse filme! Melancólico e muito bem conduzido durante toda a projeção. E acho que só eu reclamo do final...
Olá, disse que ia demorar, mais ontem levei seu texto deste post para casa, ai deu para ler, sem se preocupar com o tempo.
Olha,eu achei a história bem interessante, e vou querer ver, sim!
E todos ficaram surpresos com a indicação da atriz.
Abraços..
Kami, tb esperava que a direção errasse por causa do roteiro. Pelo menos eu reclamo disso. Beijos!
Matt, sabes que eu gostei. Mas não achei tão incrível quanto vc...
Thiago, acho que vc vai adorar o filme! Abs!
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