É inegável perceber que a pequena, mas já interessante filmografia de Sam Mendes é muito heterogênea. Lançou-se no cinema com o seu tour de force Beleza Americana, o melhor filme que retrata e critica o american way of life. Depois vieram Estrada Para Perdição e Soldado Anônimo, ambos totalmente diferentes, mas no geral corretos. De fato, é complicado colocar o sonho americano – e suas consequências – em evidência, pois envolve questões delicadas. Entretanto o diretor inglês bate na mesma tecla e resolve retornar a este tema com o seu novo trabalho, Foi Apenas Um Sonho.
É bom, pelo menos pra mim, assistir a um filme sem expectativa, pois se ele me agrada a surpresa é maior. Fui com este intuito ver a fita, mas o esforço de não criar expectativa não adiantou de nada, pois a achei somente regular. Baseado no livro de Richard Yates, Revolutionary Road conta a “inovadora” história de um casal que sonha em construir uma família, morar numa bela casa, ter vizinhos legais e que o marido seja bem sucedido. O casal é Frank (Leonardo DiCaprio) e April (Kate Winslet) e tudo vai muito bem até alguns segredos conjugais e vontades particulares de cada um serem trazidos à tona. Isto desencadeará uma série de cenas aparentemente complicadas e seremos conduzidos por uma família que deveria estar recomeçando, mas está se auto-destuíndo. Não posso negar que o desfecho do filme é de ficar paralisado na poltrona (Kate Winslet não menos que impressionante); mas vejam bem: o desfecho é ótimo e não a cena final que, a meu ver, foge completamente da proposta. Os meus problemas começam na raiz do filme que é o roteiro de Justin Haythe. Não sabemos nada sobre a vida dos dois antes do casamento e isso me incomoda um pouco, pois sem ciência do antes, não podemos divagar sobre o depois. E não é só isso: por diversas vezes ficamos perdidos com acontecimentos sem resolução, cenas que aparecem do nada e discussões que fogem completamente do momento em que são inseridas. Sinceramente, o texto é o principal problema, juntamente com a direção de Mendes. Ele faz com que algumas cenas fiquem absurdamente exageradas e promove desavenças quase que desnecessárias de tão histéricas. No entanto, tem alguns posicionamentos de câmera que são geniais, mas infelizmente não estão inseridos ao longo de todo o filme. Acho que também temos erros de divulgação, já que percebo passagens no trailer que simplesmente não existem no filme.
Coloque carros antigos nos sets e locações de filmagem que, certamente, seu filme terá uma indicação à Direção de Arte no Oscar (não vejo outro motivo que justifique a indicação do filme na categoria). Algumas peças de roupa usadas por Kate e Kathy são belas, mas no geral o figurino não tem nada de excelente (só indicaram porque Albert Wolsky é queridinho da Academia). Roger Deakins é o fotógrafo e não preciso dizer mais nada acerca deste aspecto, assim como Thomas Newman é o compositor e também não precisa de elogios (mesmo assim, que trilha linda é essa?!). O elenco secundário é, no mínimo, impecável: Kathy Bates interpreta a vizinha intrometida e fofoqueira lindamente e Michael Shannon, em apenas duas ou três cenas, está magnífico a ponto de sua composição ser uma das mais complexas do elenco. Eu gosto do Leonardo DiCaprio e seus trabalhos anteriores como em O Aviador e Diamante de Sangue são bons. Mas poupe-me quem diz que ele merecia menção nos prêmios por Foi Apenas Um Sonho! Tem momentos satisfatórios, mas em quase 90% de filme ele interpreta como um bebê birrento e chato e nem se esforça em entrar no personagem para retratar um pai de família infeliz. Não é novidade para ninguém que eu não morro de amores pela Kate Winslet – inclusive nem a teria indicado por várias vezes que foi. Mas aqui ela faz algo magnífico e tem a melhor atuação de sua carreira. Era para ser algo contido, mas torna-se uma personagem complexa, instigante e que tomará uma decisão forte no final e, nesta hora, compõe um momento irretocável na carreira da atriz. Então, Revolutionary Road – que deveria ser traduzido ao pé da letra – torna-se somente regular por culpa de um roteiro falho e de uma direção que vai de satisfatória à errônea em questão de segundos. Poderia tomar o mesmo rumo de outras obras que tratem do american way of life, mas acabou desembocando em algo comum e poderia ser totalmente esquecível se não fosse Kate, Kathy e Michael.
Nota: 6,5
Revolutionary Road; EUA, 2008; DRAMA; de Sam Mendes; Com: Kate Winslet, Leonardo DiCaprio, Kathy Bates, Michael Shannon, Kathryn Hahn, Richard Easton.
É bom, pelo menos pra mim, assistir a um filme sem expectativa, pois se ele me agrada a surpresa é maior. Fui com este intuito ver a fita, mas o esforço de não criar expectativa não adiantou de nada, pois a achei somente regular. Baseado no livro de Richard Yates, Revolutionary Road conta a “inovadora” história de um casal que sonha em construir uma família, morar numa bela casa, ter vizinhos legais e que o marido seja bem sucedido. O casal é Frank (Leonardo DiCaprio) e April (Kate Winslet) e tudo vai muito bem até alguns segredos conjugais e vontades particulares de cada um serem trazidos à tona. Isto desencadeará uma série de cenas aparentemente complicadas e seremos conduzidos por uma família que deveria estar recomeçando, mas está se auto-destuíndo. Não posso negar que o desfecho do filme é de ficar paralisado na poltrona (Kate Winslet não menos que impressionante); mas vejam bem: o desfecho é ótimo e não a cena final que, a meu ver, foge completamente da proposta. Os meus problemas começam na raiz do filme que é o roteiro de Justin Haythe. Não sabemos nada sobre a vida dos dois antes do casamento e isso me incomoda um pouco, pois sem ciência do antes, não podemos divagar sobre o depois. E não é só isso: por diversas vezes ficamos perdidos com acontecimentos sem resolução, cenas que aparecem do nada e discussões que fogem completamente do momento em que são inseridas. Sinceramente, o texto é o principal problema, juntamente com a direção de Mendes. Ele faz com que algumas cenas fiquem absurdamente exageradas e promove desavenças quase que desnecessárias de tão histéricas. No entanto, tem alguns posicionamentos de câmera que são geniais, mas infelizmente não estão inseridos ao longo de todo o filme. Acho que também temos erros de divulgação, já que percebo passagens no trailer que simplesmente não existem no filme.
Coloque carros antigos nos sets e locações de filmagem que, certamente, seu filme terá uma indicação à Direção de Arte no Oscar (não vejo outro motivo que justifique a indicação do filme na categoria). Algumas peças de roupa usadas por Kate e Kathy são belas, mas no geral o figurino não tem nada de excelente (só indicaram porque Albert Wolsky é queridinho da Academia). Roger Deakins é o fotógrafo e não preciso dizer mais nada acerca deste aspecto, assim como Thomas Newman é o compositor e também não precisa de elogios (mesmo assim, que trilha linda é essa?!). O elenco secundário é, no mínimo, impecável: Kathy Bates interpreta a vizinha intrometida e fofoqueira lindamente e Michael Shannon, em apenas duas ou três cenas, está magnífico a ponto de sua composição ser uma das mais complexas do elenco. Eu gosto do Leonardo DiCaprio e seus trabalhos anteriores como em O Aviador e Diamante de Sangue são bons. Mas poupe-me quem diz que ele merecia menção nos prêmios por Foi Apenas Um Sonho! Tem momentos satisfatórios, mas em quase 90% de filme ele interpreta como um bebê birrento e chato e nem se esforça em entrar no personagem para retratar um pai de família infeliz. Não é novidade para ninguém que eu não morro de amores pela Kate Winslet – inclusive nem a teria indicado por várias vezes que foi. Mas aqui ela faz algo magnífico e tem a melhor atuação de sua carreira. Era para ser algo contido, mas torna-se uma personagem complexa, instigante e que tomará uma decisão forte no final e, nesta hora, compõe um momento irretocável na carreira da atriz. Então, Revolutionary Road – que deveria ser traduzido ao pé da letra – torna-se somente regular por culpa de um roteiro falho e de uma direção que vai de satisfatória à errônea em questão de segundos. Poderia tomar o mesmo rumo de outras obras que tratem do american way of life, mas acabou desembocando em algo comum e poderia ser totalmente esquecível se não fosse Kate, Kathy e Michael.
Nota: 6,5
Revolutionary Road; EUA, 2008; DRAMA; de Sam Mendes; Com: Kate Winslet, Leonardo DiCaprio, Kathy Bates, Michael Shannon, Kathryn Hahn, Richard Easton.
16 comentários:
Kau, nem da trilha eu gostei haha
O único aspecto que realmente me empolgou no longa foi a Kate Winslet (mas mesmo assim não considero a melhor atuação dela) e os poucos momentos de Shannon. A Academia fez bem em esnobar "Foi Apenas Um Sonho".
Olá...Belaza?!
Bom, estou querendo muito ver esse filme,e espero ver logo. Acho que é o tipo de filme que gosto, mais prefiro não criar expectativas, pois, já tive várias decepção.
Há, estive vendo as novidades. Está de volta no Cinefilando, né? Que bom, estarei por lá. E eu também vi Funny Games U.S...e se a intenção era deixar o telespctador com muita raiva, eles conseguiram!
Abraços...
Não há nada de novo neste filme, e a questão não é da 'novidade' e sim de como esse assunto já muito tratado nos cinemas é usado. Kate Winslet é o melhor do filme. Há um tempo tinha perdido todas as espectaticas. Abraço!
Curioso mas não muito cheio de expectativas, pra não piorar!
Olá, Kau! Tudo bem?
O meu favorito do Sam Mendes é "Estrada para Perdição", que é um dos meus filmes favoritos. Acho que deixarei este filme para ver no DVD.
Beijos!
Estava discutindo agora mesmo esse filme com um amigo, ele não é uma pelicula para a maioria, trata de um tema que nem todos gostam de discutir. E além disso, traz uma edição lenta e cheia de nuances, para os filhos dos Buckheimers com certeza não presta!
Filmaço, adorei ! Seguindo o mesmo ritmo de de "Beleza Americana" comuma trilha impecavel, grande filme !
Nossa, Kau, mesmo sem expectativas, o filme nao empolgou muito, eh tao abaixo da maioria dos filmes anteriores dele assim? Eu tb deixei as expectativas de lado ha tempos, mas ainda espero uma grande atuacao dos protagonistas. Ainda nao deu pra assistir, mas espero conferir ainda essa semana. Bjs!!
Matt, a trilha é toda corretinha e eu adorei! Kate e Michael, de fato, estão ótimos.
Thiago, blza e vc?! O filme me decepcionou demais. Sim, voltei ao Cinefilando e espero seus comments!! Tb já preparei texto para Funny Games U.S. Abraços!
Rafael, exatamente! Concordo com vc. Abraços!
Robson, vá sem expectativas mesmo. assim, se vc gostar, será uma surpresa para vc mesmo.
Mayara, tudo bem e vc?! Meu preferido do Sam é, de muuuito longe, Beleza Americana. Beijos!!
Cassiano, eu AMO filmes que tratam desta temática. Logo, não me incluo na sua teoria, rsrsrsrs. Acho tudo em Beleza Americana superior e olha que o tema é o mesmo. Outro exemplo: a série Desperate Housewives. Critica o american way of life de forma magnífica, também muito superior à abordagem de Mendes em Rev. Road. E tb não tenho problema algum com edições lentas; muito pelo contrário.
Cleber, cheguei a odiar o filme em alguns momentos...
Romeika, vc ainda pode ler alguns comentários de quem adorou o filme. Dividiu opiniões, sim. De minha parte, acho muuuuito aquém dos demais filmes de Mendes. Pra vc ter uma idéia: Estrada Para a Perdição leva 8,5; Soldado Anônimo 8,0 e Beleza Americana 9,5! Beijos!
Oi Kau, de fato o filme divide opiniões. Mas tenho que discordar de você hehehe! Mendes não chega perto de Beleza Americana mas continua um ótimo diretor e acredito que Di Caprio tenha sido um marido surtado na medida certa, Já a Kate, merecia a indicação por esse filme! []'s!
Não gostei de RR (preguiça de escrever tudo), pra mim o que salva são as atuações, de Kate Winslet e dos coadjuvantes (Kathy e Shennon), no geral fiquei decepcionado e achei bastante cansativo e monótono. Acho que cê já sabe minha opinião :p
Abraços.
A sua opinião é um reflexo dos muitos textos que tenho lido sobre este filme. Incrível como "Foi Apenas um Sonho" tem recebido esta recepção mais fria. Uma pena, afinal o filme tinha tudo para ser uma bela obra.
Beijos!
Mais um que critica o filme nos mesmos pontos e mais um que terei que discordar. hehehe Você já leu minha opinião sobre o filme e sabe que ele me impactou bem mais, principalmente pela atuação dos dois atores. E não tenho ressalvas quanto a direção do Mendes, acho que conduziu tudo no tom e ritmo correto.
Ironicamente, discordo dos seus elogios também. hehe Não acho que o melhor adjetivo para a trilha seja 'linda', acho que ela mais incomoda [no bom sentido] que qualquer outra coisa. Michael está muito bem, mas seu personagem é um tanto esquisito e exagerado, não precisava de alguém "consciente" ali - não quando a intenção é parecer revelar ao espectador o que é fácil perceber.
Ah, e feliz aniversário! =D Parabéns, meu caro. Tudo de bom e tenha sempre excelentes filmes. hehe []s!
Pedro, eu já acho a direção de Mendes muuuito aquém do que apresentou em Beleza Americana. E trocaria Leonardo por qualquer outro ator, rsrs. Abraços!
Yuri, monótono eu não cheguei a achar. Mas que tem problemas sééérios, isso tem! Abraços.
Kami, exatamente. Um elenco, aparentemente, bom... e ótimo diretor... uma equipe técnica notável. Pena que deu errado! Beijos!
Jeff, a composição de Shannon tinha que ser daquela forma. Não é exagerada, mas sim real para os parâmetros necessitados - ou seja, um maníaco. Acredito que a direção tenha pecado pelo exagero que já está evidente no roteiro e isso me incomoda. Leonardo?! Ui. Como eu disse, algo extremamente exagerado e até chato rsrsrs. Obrigaaado pelos parabéééns!! Abraços!
Acho que "Foi Apenas um Sonho" deixou muito a desejar mesmo, mas eu gostei bastante do Leonardo DiCaprio - o maior problema é que seu personagem é um chato, mas ele o interpreta muito bem.
Vinícius, acho que o personagem dele está mais para pai de família infeliz, que para pentelho, rsrsrsrsrsrs. Abraços!
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