quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O Leitor


Já nos primeiros minutos de O Leitor, novo trabalho do diretor Stephen Daldry, sabemos que o roteiro do filme nos apresentara a mesma história, mas de maneira não linear em termos temporais. Temos ciência disto uma vez que somos guiados pela juventude de Michael, personagem de David Kross e Ralph Fiennes, de acordo com lembranças que vem à tona quando ele já é adulto. Também já começamos com o fato que será o carro-chefe durante toda a reprodução: a sua paixão súbita por Hanna Schimitz (Kate Winslet) e, aparentemente, a recíproca é verdadeira, mesmo com a diferença de idade entre eles. David Hare, o roteirista que adaptou a obra homônima de Bernhard Schlink, faz um trabalho correto – mesmo que modificando algumas passagens – mas que ainda tem um déficit de genialidade nas grandes cenas do filme, principalmente nas três sequências do desfecho. Aproveitando para ir direto ao ponto, Daldry parece que não é o mesmo que dirigiu os espetaculares As Horas e Billy Elliot, mas por quê?! Absolutamente diferente desses dois filmes, The Reader é frio e erra justamente numa falta de sensibilidade que é a essência da obra literária.

Ambientado em duas épocas, ambas na Alemanha, O Leitor gira em torno do casal que, durante alguns meses, vivem uma tórrida paixão que, a meu ver, é até tórrida demais. Explico: fica claro no livro que é amor e não paixão, mas o enfoque que Stephen deu a este sentimento no longa dá a entender, por oras, que é apenas algo carnal. Sempre quando eles se encontravam, no entanto, algo interessante acontecia. Michael lia para ela alguns trechos de livros, fossem histórias ou poesias, e Hanna simplesmente ficava maravilhada com a forma que as palavras saiam, tão sublimes, da boca dele. Um dia, de uma hora para outra, ela deixa Michael sem dar explicação e só voltamos a encontrá-la no ápice da fita e, junto com o clímax, vem o porquê de Hanna ter fugido e o porquê de adorar que as pessoas lessem para ela. A atmosfera é muito direta, composta por algumas passagens que chegam a ser extremamente insensíveis e, a todo momento, me perguntei como este filme conseguiu indicações nas categorias principais do Oscar. Não é ruim, mas carece de suavidade em sua abordagem final e, principalmente, inicial. O filme toca em pontos interessantes como as consequências do pós-guerra e, objetivamente, do nazismo, questões sobre o destino e um amor que não acabou – mesmo eu reclamando de tal frieza. A última cena em que a personagem de Kate aparece, era para ser “a cena” e só de imaginá-la, lendo o livro, meu coração disparou. Mas foi colocada quase que em segundo plano, infelizmente. Repito que é um bom filme, mas longe de ser um dos melhores da temporada.

David Kross interpreta Michael em sua juventude e o faz de forma muito convincente. O garoto mostra talento e parece ter um caminho legal pela frente. Este foi o ano de Ralph Fiennes: fez O Leitor, A Duquesa, Na Mira do Chefe e o telefilme Bernard and Doris (neste ele está maravilhoso). Sua atuação secundária em The Reader é excelente e merecia uma certa gratificação, talvez. Agora chegamos ao ponto mais complicado do meu texto, Kate Winslet. Quem me conhece além-blog e costuma papear comigo por MSN e Orkut, sabe que sempre defendi a sua indicação como lead por este filme, já que sua personagem no livro é principal. Mas caí do cavalo e me deparei com um papel estritamente secundário e, por isso, vou considerar uma tremenda injustiça que esta vença o Oscar – já adianto que não por estar ruim. O mesmo não iria acontecer se tivesse sido indicada – corretamente – por Foi Apenas Um Sonho onde está espetacular. Mesmo assim, devo ser transparente e gritar a sete cantos: que atuação coadjuvante impressionante Kate tem neste filme! Cada gesto, cada olhar, cada nuance corporal... tudo criado milimetricamente por esta atriz que, num único ano, me deixou perplexo duas vezes. Se estivesse na categoria secundária de atuação, teria disparado na minha preferência e aí sim venceria o Oscar.

Em termos técnicos, e já estou concluindo, The Reader é perfeito. Há quem diga que Roger Deakins não compôs a fotografia individualmente, mas sim com a ajuda de Chris Menges. Sozinho ou em dupla, os enquadramentos seguem um estilo conservador e se fazem irretocáveis. É a segunda ou terceira trilha sonora que ouço e considero melhor que a de A.R Rahman para Quem Quer Ser Um Milionário?. Nico Muhly utiliza acordes que vão desde os mais clássicos até os mais originais e inimagináveis. Gosto muito da direção de arte e, inclusive, Christian M. Goldbeck e Erwin Prib mereciam uma atenção especial. O trio feminino que cuidou da edição (Claire Simpson) e dos figurinos (Donna Maloney e Ann Roth) trabalha nos seus respectivos nichos direitinho. É triste ver um filme com um elenco tão sensacional em cena e com uma técnica tão bela, escorrer pelas mãos de um diretor como Stephen Daldry. E pior: por sua própria culpa aliada com falhas, mesmo sem serem gritantes, no roteiro.


Nota: 7,0



O Leitor; EUA, 2008; DRAMA; de Stephen Daldry; Com: Ralph Fiennes, Kate Winslet, David Kross, Bruno Ganz, Jeanette Hain, Kristen Block, Volker Bruch.

21 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com vocÊ Kau. Winslet deveria receber a indicação pelo filme de Sam Mendes.

Matheus Pannebecker disse...

Kau, como eu já te disse, gostei bastante de "O Leitor". Mas tenho que concordar em um ponto contigo - o filme é frio. Poderia ter sido bem mais emocionante, até porque o primeiro ato mostrando o romance entre os personagens é perfeito. Mas, no geral, eu gostei bastante do filme. Inclusive acho que merecia mais indicações - fotografia, trilha sonora e direção de arte, por exemplo. E se Kate ganhasse como coadjuvante, seria um dos prêmios mais justos dos últimos tempos.

Denis Torres disse...

Kau, quanto à Casablanca, eu não disse o melhor romance (pois isso depende de gosto pessoal) mas sim o maior romance. É o mais famoso no gênero e incontestável no mundo inteiro. Que negócio de selo é esse? Abs!

Anônimo disse...

"é um bom filme, mas longe de ser um dos melhores da temporada", exato! Na verdade gosto muito da primeira parte do filme, mas acho que ele falha emocionalmente quando eu esperava algo a mais. E o final é capenga na minha opinião. Dei nota 8, contudo.

Otavio Almeida disse...

Puxa, fiquei deprimido agora. To indo ver o filme agora. Mas parece que muitos estão se decepcionando com o filme. Pelas opiniões, parece o mais fraco de Stephen Daldry.

Abs!

Kau Oliveira disse...

Pedro, exatamente. Mesmo assim, defendo sua dupla indicação.

Matt, ele foi indicado à fotografia, tns's God! A técnica é excelente, como eu disse. E sim, tb vou reclamar se Kate vencer na categoria errada.

Denis, entendi! Me desculpe pelo deslize. Sobre o desafio: postei logo abaixo e repassei ao seu blog. Abs!

Vinícius, capenga em termos de frieza, correto?! Eu quase congelei vendo o filme...

Otavio, vai com fé! Vai que tu gosta?! Abs!!

Unknown disse...

Eu já suspeitava que o filme não iria agradá-lo completamente. Foi como eu escrevi na última linha da minha resenha: não é uma merda, mas está longe de ser bom. Achei aqueles epílogos enfadonhos demais, chatos.

Abs!

Anônimo disse...

Sim, o final não tem nada de mais mesmo.

Anônimo disse...

Tentei não ler a crítica, já que vou assistir ao filme no final de semana. Por isso, volto aqui para comentar melhor "O Leitor" após assistí-lo.

Marcel Gois disse...

Acho que vou conferir o filme amanha, qnd estréia por aqui..

Robson Saldanha disse...

As muitas expectativas nem sempre são o meu forte... prefiro achar que não vou gostar, daí acabo curtindo a obra... heheeh

Museu do Cinema disse...

Escolhemos a mesma foto! Pena, queria mesmo era colocar alguma dela nua!

Mayara Bastos disse...

Olá, Kau! Tudo bem?

Verei o filme na semana que vem, por que amanhã verei "Dúvida". E depois irei falar o que achei, ok?

Beijos e tenha um ótimo fim de semana! ;)

Pedro Henrique Gomes disse...

Eu acho que vou gostar. Estou lendo o livro, que é legal!

Cine&Club2* disse...

Espero bem mais de Stephen Daldry!

Kauan Amora disse...

AInda não vi, mas vou ver hoje e posto um comentário e uma crítica amanhã.

Rafael Moreira disse...

Pô, não esperava que o filme fosse fraco assim pra você. Bem, ao menos estou indo preparado pro cinema amanhã. Exatamente como Rick Gervais disse, suponho: "Eu falei para você que era só fazer um filme sobre holocausto que os prêmios viriam.". Abraço e bom final de semana.

Kau Oliveira disse...

Dudu, não agradou mesmo. Achei insensível ao extremo! Abs!

Vinícius, exatamente!

Kami, espero seu comment!!

Marcel, assista e depois diga o que achou.

Robson, exatamente! Fazer isso é o mais correto.

Cassiano, que pervertido vc!!!!!! rsrsrsrsrsrsrsrs

Mayara, td bem e vc?! EU AMEI DÚVIDAAAA!!!!!!!!!!!!!!!!! Beijos!!

Pedro, eu adorei o livro e digo que a adaptação é mais ou menos...

Cleber, esperava algo como Billy Elliot, pelo menos.

Kauan, vc vai amar! FATO!

Rafael, é bem capaz que vc goste. Vai na fé! E por falar no Ricky: estou LOUCO para vê-lo em Ghost Town. Abraços e bom fds!

Unknown disse...

O roteiro deste filme é decepcionante, Kau. Como se colocasse um doce na nossa mão (primeiro ato) e tirasse depois (segundo ato). Queda vertiginosa de qualidade - além da frieza, tão incomum nos outros filmes de Daldry... Pobrezinho, este ano ele não leva seu Oscar nem sonhando...

T. disse...

Definitivamente estamos em um "dessintonia" cinematográfica este ano. Eu amo Slumdog e me decepciono com Ben Button. Amo loucamente O Leitor e acho ele a confirmação de uma característica única de Daldry e você o acha frio e o filme que ele mais se distancia dos trabalhos anteriores.


Que diacho menino. Mas leia minha crítica.

Kau Oliveira disse...

Weiner, exatamente. Pra mim, era obrigatório que tivesse levado por As Horas.

Ti, então... concordamos mais ou menos com Slumdog rsrsrsrsrs. Eu AMO Ben Button e achei O Leitor fraco. Uma pena; mas vou ler seu texto sim!