sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Austrália


Lá em 1992, o diretor australiano Baz Luhrmann inicia sua saga no cinema com o filme Vem Dançar Comigo: tecnicamente lindo, mas em termos de texto, regular. Veio, então, o seu mais ousado trabalho Romeu + Julieta, pois ele nos apresenta, de forma contemporânea, uma das mais belas histórias de amor que existe. O filme? Tecnicamente lindo, mas em termos de texto, regular – mesmo Baz recebendo o adjetivo visionário após filmar o longa. Foi em 2001 que Luhrmann mostra à que veio e presenteia o espectador com um dos mais fantásticos musicais do nosso tempo, Moulin Rouge! – Amor em Vermelho. Além de tecnicamente lindo, o filme é um trunfo em termos de roteiro, elenco e direção. Após ver o trailer do seu novo trabalho, Austrália, realmente achei que viria algo do calibre do musical, mas me desapontei (e olha que o filme não é ruim).

Quatro roteiristas de peso (Stuart Beattie, Baz Luhrmann, Ronald Harwood e Richard Flanagan) se unem para levar às telas uma história que mistura misticismo, amor, guerra, racismo e poder, onde clichês não faltarão. Um pouco antes de a Segunda Grande Guerra mostrar suas primeiras faíscas, uma aristocrata inglesa chamada Sarah Ashley (Nicole Kidman, belíssima) é obrigada a ir à sua fazendo de gado no interior da Austrália para reencontrar o marido, mas ao chegar lá se depara com ele assassinado. Desnorteada, ela deve contar com a ajuda do brutamonte Drover (Hugh Jackman) - algo como um Capataz - que a guiará na luta contra poderosos locais. Conhece também o garotinho aborígene Nullah (Brandon Walters excepcional) o qual foge constantemente do vilão da história Neil Fletcher (o irmão de Boromir, Faramir... quer dizer, David Wenham) que quer aprisionar o menino por um motivo no mínimo interessante e triste. Se eu for me alongar contando tudo o que acontece nas quase três horas de filme, fico o dia todo aqui. Então, digo que o filme gira em torno do auto-descobrimento de Sarah, das lendas incríveis acerca do povo aborígene e coisas do tipo. O roteiro, não vou mentir, é bem previsível, piegas e termina com uma cena muito tocante (sim, eu chorei), mas que no fundo o espectador já espera. O elenco está muito a vontade, principalmente a minha querida Nicole Kidman (quase sem resquícios de botox) que volta às origens, mas não tem o seu melhor trabalho. Hugh Jackman é ótimo como capataz homenzarrão e David Wenham se mostra um “bom maldoso”. Mas quem rouba a cena é o garotinho Brandon Walters e vale lembrar que somos levados o tempo todo pela sua narração.

Apesar de pecar, o texto tem algumas sacadas interessantes – quando na dose certa - que se unem a uma boa direção de Baz. Por várias vezes ele opta por homenagear (ou copiar?) filmes que, por algum motivo, se mostram parecidos com Austrália. Vemos muito de Entre Dois Amores, Cold Mountain, ...E o Vento Levou e, principalmente, O Mágico de Oz. Inclusive, menções a este são quase que constantes e achei isso uma graça! Uma cena, em especial, é embalada por Nicole Kidman entoando um pedacinho de “Over the Rainbow” e outra nos mostra uma cena do filme sendo reproduzida no cinema. Homenagear um filme é legal. Achei um doce mencionarem tanto O Mágico de Oz? Sim, mas tudo tem um limite. Baz me deixou irritado num dado momento quando até a maravilhosa frase “there’s no place like home” é utilizada. A composição musical de David Hirschfelder utiliza um ou dois movimentos inspirados em “Over the Rainbow” e, no geral, a trilha é um estrondo de boa. Em quesitos sonoros, na verdade, a fita é excepcional, principalmente sua mixagem de som. O que mais tem de bom na película do australiano? Visualmente – como já esperamos de Luhrmann – o filme é impressionante. Uma poesia constante para os olhos de meros mortais como nós, já que a fotografia prima pelas espetaculares paisagens da Oceania e a cenografia é, talvez, a melhor coisa do filme. Chegam a ser inaceitáveis as exclusões de Mandy Walker na categoria de Melhor Fotografia e da dupla Ian Grace e Karen Murphy em Melhor Direção de Arte (no Oscar). Uma pessoa aqui e outra acolá, reclamam da também esnobada recebida pelos efeitos visuais da fita, mas eu não a indicaria. São belos efeitos, mas exageradíssimos em vários momentos. Também me sinto na obrigação de mencionar a lindíssima canção “By the Boab Tree” que toca nos créditos (clique aqui para ouvi-la). No fim das contas, o visionário australiano dirige algo sobre a sua terra e faz isso com uma paixão evidente. Mas não precisava criar um filme tão comercial, clichê e piegas. Mesmo assim, digo que assistir Austrália é uma delícia; o típico “épico” que, provavelmente mesmo cheio de problemas estruturais, agradará a muita gente.


Nota: 7,0 (aproveito para informar que modifiquei meu modo de atribuir notas aos filmes. De agora em diante, não daria mais notas tão quebradas; o mais “decimal” que acorrerá é um 0,5).


Australia; EUA, 2008; DRAMA/ROMANCE/AVENTURA; de Baz Luhrmann; Com: Nicole Kidman, Hugh Jackman, Ray Barrett, Bryan Brown, Tony Barry, David Gulpilil, Jacek Koman, David Ngoombujarra, David Wenham, Brandon Walters.

20 comentários:

Romeika disse...

Kau, vc definiu bem a experiencia de ver o filme, eh um sobe e desce a todo instante, tem seus bons momentos e outros q deveriam ter sido deletados. Nao gostei da Nicole Kidman (acho, ao contrario de vc, q o botox esta cada diz mais visivel), e me encantei com o garotinho.

A homenagem ao classico "O magico de oz" soou piegas em varios momentos, nao precisava de tudo aquilo.. Ta certo q ele queria fazer um filme a moda antiga, mas ele se esbaldou!

P.S.:o final eh bonitinho, tristinho, mas nao chorei hehehe meu deus, estou comecando a tomar abuso da Nicole. Quem diria!

Denis Torres disse...

Kau, vc viu Na mira do chefe via download também? Vc é o cara, hehe. A sua torcida no Oscar é pelo Benjamin Button, certo?

Fernando Ribeiro disse...

Concordo plenamente com esta crítica. Parabéns! Está muito boa. :)

A minha nota é a mesma que a tua.

Abraço.

Anônimo disse...

Kau, ao lado do comentário do Wanderley, esta é uma das opiniões positivas que li sobre "Australia". Ainda não conferi o longa do Baz Luhrmann, mas não tenho expectativas em relação à obra, talvez, por isso, acabe apreciando-a.

Beijos e bom final de semana!

Yuri Dias disse...

E ae Kau. Bom, fiquei curioso para ver, aliás, já estava. Não tenho grandes expectativas para o filme, mas a história parece boa e pela sua crítica dei uma animada.

Agora é conferir.

Abraços.

Anônimo disse...

É interessante ver que ao menos "Autrália" não decepcionou no quesito técnico, algo já esperado pelo belíssimo visual visto nos trailers e outros materiais de divulgação. Ainda espero me surpreender um pouco mais, mas vou assistir com expectativas moderadas. Abraço!

Kau Oliveira disse...

Romeika, eu amo a NIcole e acho que se comparar sua Margot com sua Sarah, o botox está MUITO menos evidente nesta, hahahahaha. Como eu disse, homenagear é legal; mas até um certo ponto. Baz não foi nada limítrofe aqui.

Denis, eu assisti Na Mira do Chefe no cinema. Ficou uma semaninha em cartaz aqui no Arteplex, tmk's God!! E minha torcida, por enquanto, é por Benjamin Button.

Fernando, obrigado! Vou conferir seu texto. Abraços!

Kami, o filme exagera em vááários qusitos textuais e em termos de efeitos tb. Mas é uma delícia assistí-lo, apesar disso. Beijos e ótimo fds para você também!

Yuri, é bom assistir sem esperar algo perto de Moulin Rouge! mesmo, rsrsrsrsrs. Abraços!

Vinícius, pode criar uma GRANDE expectativa acerca do visual. É algo fabuloso mesmo. O roteiro peca nos clichês, em "pieguice" e em certos exageros, mas é legal. Abraços!

Dr Johnny Strangelove disse...

Eu não dou um reau pra ver esse filme ...

Alyson Santos disse...

Real*

Então, Kau, ainda não conferi o filme , mas uma conhecida minha (Que manja bem de cinema e mora nos EUA) na época definiu "Austrália" como: Vende ouro, mas é bronze" e é exatamente isso que penso sobre ele, mesmo antes de vê-lo. É um filme que me causa curiosidade, mas não expectativas.

Abraço!

Cine&Club2* disse...

Eu tinha uma leve impressão de que você iria gostar.

Anônimo disse...

Como sempre pulei o segundo parágrafo. xD Depois de ver o filme leio na íntegra.
Depois de Moulin Rouge, qualquer coisa que o Baz fizer eu vejo feliz. Esse parece uma super produção, tecnicamente muito bom e atores que eu adoro. Só que pela duração do filme, tem que ser algo com muito mais qualidades que isso.

[]s!

Mayara Bastos disse...

Olá, Kau! Tudo bem?

Não vi ainda, rsrs, mas tenho muita curiosidade e anda não entendi o fracasso de bilheteria que o filme teve, que pode ser por isso que o filme foi esquecido das principais premiações. A sua nota me animou um pouquinho, rsrs.

Beijos e tenha um ótimo fim de semana! ;)

Lucas Oliveira disse...

eu tenho expectativas altíssimas sobre australia. moulin rouge é certamente o filme q eu mais assisti, acho perfeito em todos os sentidos! como o vinicius disse, pelo o menos tecnicamente pelos trailers parece ser interessante. e gosto mto da nicole kidman tb...

T. disse...

Kau, leia minha crítica.

Apesar de notas parecidas, já acho o contrário, todo o problema do filme gira em torno de Baz, que não soube medir a abordagem que teria no filme.

Do roteiro às atuações caricatas, tudo é culpa da paixão pelo over do Baz que em Moulin Rouge fez o filme virar um clássico, mas aqui só atrapalhou.

Unknown disse...

Este filme será conferido por mim com poucas expectativas - mas ainda tenho esperanças de não me deslumbrar apenas com um pirotecnias visuais. Mas, quem já viu o filme manda as pessoas irem ao cinema despidas de preconceito, sempre. Não funciona ir ver um filme que mais é uma homenagem aos clássicos de antigamente como "E o Vento Levou" e "Assim Caminha a Humanidade" esperando um "Pulp Fiction" ou "Trainspotting", você não concorda? Filmes como "Australia" são previsíveis, mas, diferentemente de "Benjamin Button", por exemplo, que pintava de intelectualóide e soou bem trivial, deve me animar.

Matheus Pannebecker disse...

Kau, eu ADOREI a música! Fiquei procurando ela pra download pela internet por um bom tempo e não achei. Se tiver, me passa pelo msn ;)

Kau Oliveira disse...

João, eu adoro filmes deste tipo rsrsrs.

Alyson, é um filme exagerado, mas que no fim das contas é gostoso de se assistir. Abraços!

Cleber, e quem disse que eu não gostei?! Eu falei no fim do texto que achei uma delícia assistir ao filme, mesmo com seus erros.

Mayara, tudo bem e vc?! O filme tem a técnica excelente e deveria ter aparecido nas premiações nestes quesitos. A bilheteria eu tb não entendi, pois é um filme bem comercial. Beijos e ótimo fds para você tb!

Lucas, concordo com o que você disse sobre Moulin Rouge! e Nicole. E sim, espere muito mais deslumbre visual e sonoro que textual em Austrália.

Ti, já leio sua crítica. Sinceramente vi problemas no que diz respeito ao exagero sobre Baz. Mas no geral ele conduz as cenas muito bem, principalmente as que envolvem animais. O meu maior problema tem muito mais a ver com o roteiro mesmo. Não cheguei a achar o elenco caricato.

Weiner, concordo com o que disse sobre o preconceito. Mas discordo no que diz respeito à trivialidade de Benjamin Button, já que acho o filme absolutamente superior à Austrália e muito, mas muito mais complexo que eu imaginava. Acredito, então, que você vá gostar mais que eu do filme de Lurhmann.

Matt, to insandecido procurando a música!!!!! Não achei, por enquanto, mas quando encontrar te passo no MSN!

Kau Oliveira disse...

Jeff, pulei seu comment sem querer! Então, tb esperava tudo de Austrália por causa do bendito Moulin Rouge!. Vc pode esperar algo tão grandioso visualmente quanto temos no musical. Abraços!

Rafael Moreira disse...

Sua crítica diz tudo que o que o filme é, há pouco tempo eu aguardava muito esse filme. A decepção foi total? Creio que não. Mesmo assim o filme é um espetáculo visual que cansa. Na boa, Baz Luhrmann faz melhor que isso, ao menos eu esperava que sim. Abraço!

Kau Oliveira disse...

Rafael, exatamente. O visual é típico de Baz. Abraços!