Primeiramente digo que este é um dos meus livros preferidos e se um dia pudesse vê-lo retratado no cinema da maneira que merece, ficaria realizado. Foi escrito em 1932 pelo inglês Aldous Huxley (Sem Olhos em Gaza, Contraponto, O Tempo Deve Parar) o qual já tem um lugar especial no meu hall de gênios. A explicação para isso é simples: em Admirável Mundo Novo (Brave New World), ele mostra uma antevisão de um futuro, no qual o domínio integral de técnicas e da ciência produz uma sociedade totalitária e absurdamente desumanizada. Neste romance incrustado na ficção científica, a sociedade é dividida em castas, onde os “mais evoluídos e adaptados” dominam os “inferiores”; estas castas, inclusive, eram diferenciadas por cores de roupas diferentes. É um hipotético modelo de como seria o futuro, no qual não há uma mínima noção de ética religiosa, nem de valores morais. Qualquer dúvida e insegurança dos cidadãos era dissipada com o consumo da droga sem efeitos colaterais chamada "soma" (uma espécie de fuga). Neste modelo impressionante descrito por Aldous, as crianças eram criadas em laboratório e o conceito de família era inexistente. O que mais me espanta é o fato de este livro ter sido escrito em 1932 e, mesmo assim, conter uma visão tão científica e audaciosa de um possível futuro. No começo do texto, disse que que gostaria de vê-lo reproduzido nas telonas da maneira que merece. Claro, uma vez que dois filmes em especial já tentaram reproduzir a sociedade descrita por Aldous, mas fracassaram – além de que, os filmes não são adaptações da obra: falo de “O Demolidor” (EUA, 1993 – de Marco Brambilla) e de “Equilibrium” (EUA, 2002 – de Kurt Wimmer). Além de filmes, algumas bandas já se inspiraram na obra para compor canções. É o caso de “Brave New World” (Iron Maiden), “Admirável Gado Novo” (Zé Ramalho), “Admirável Chip Novo” (Pitty). Muitos comparam a obra de Huxley com o filme "Matrix", mas não entro nestes méritos, pois este filme mostra ciência de outra forma.
É complicado imaginar quem poderia adaptar esta obra-prima. Teria que ser algum diretor ousado, mas ao mesmo tempo cauteloso. Creio que seria interessante ver Charlie Kaufman como roteirista e, talvez, David Lynch na direção. A fotografia teria que ser muito peculiar e não penso em outro nome a não ser Matthew Libatique; já para a trilha sonora fico entre Philip Glass e Alexander Desplat. A obra reúne muitos personagens, então só citarei os principais: o Diretor Alfa (Ralph Fiennes), Bernard Marx (Leonardo DiCaprio), Lenina Crowey (Amy Adams), Linda, Mãe do Selvagem John (Cate Blanchett), John, o Selvagem (Paul Dano), Mostafa Mond (Tom Wilkinson). Se assim fosse, concordam que o SAG de melhor elenco já teria dono?
Quatro anos antes de sua morte, dá continuidade à Admirável Mundo Novo com o ensaio Regresso ao Admirável Mundo Novo. Impressionante, esse Aldous. Aqui, ele tenta demostrar que muitas das "profecias" do seu romance estavam a ser realizadas graças ao "progresso" científico, no que diz respeito à manipulação da vontade de seres humanos.
Cena que deve ficar perfeita: queria poder citar pelo menos dez cenas, mas não tem como. Não irei descrever a cena com as minhas palavras; prefiro que vocês leiam e vejam a sua profundidade.
“...Berçários, indicava o aviso. O Diretor abriu a porta e adentrou com os estudantes. Haviam grandes vasos apinhados de flores ao chão, até que o Diretor ordenou que as enfermeiras colocassem livros junto das flores e disse:
- Agora, tragam as crianças.
Entram bebês, com cerca de oito meses, todos iguais (um Grupo Bokanowsky, sem dúvidas) e vestidos de cáqui (pertenciam à casta Delta).
- Ponham as crianças no chão e virem-nas de modo que vejam as flores e livros...
...As crianças engatinharam ansiosas até as flores e os livros. Ao chegarem neles, tocaram, pegaram, despetalaram as rosas. O Diretor disse:
- Observem bem. – E, levantantando a mão, deu um sinal.
Uma explosão violenta fez ecoar um som estridente, fazendo com que os bebês pulassem de susto e gritassem de medo. Não contente, o diretor deu outro sinal e, desta vez, choques elétricos foram dados nas crinças no intuito deles lembrarem disto quando pensarem em olhar flores ou pegar em livros. Os livros e o barulho, as flores e o choque – na mente infantil essas parelhas já estavam ligadas de forma comprometedora... Criaram ódio instintivo à livros e flores...
...Não era seguro que eles desperdiçassem tempo com livros, pois havia o perigo de lerem algo que provocasse o indesejável descondicionamento de algum reflexo...” (Admirável Mundo Novo, Cap. II).
Mas e as flores? Deixo esta no ar. Sugiro que leiam esta impressionante obra-prima literária, escrita por um dos grandes escritores do nosso tempo.
Quatro anos antes de sua morte, dá continuidade à Admirável Mundo Novo com o ensaio Regresso ao Admirável Mundo Novo. Impressionante, esse Aldous. Aqui, ele tenta demostrar que muitas das "profecias" do seu romance estavam a ser realizadas graças ao "progresso" científico, no que diz respeito à manipulação da vontade de seres humanos.
Cena que deve ficar perfeita: queria poder citar pelo menos dez cenas, mas não tem como. Não irei descrever a cena com as minhas palavras; prefiro que vocês leiam e vejam a sua profundidade.
“...Berçários, indicava o aviso. O Diretor abriu a porta e adentrou com os estudantes. Haviam grandes vasos apinhados de flores ao chão, até que o Diretor ordenou que as enfermeiras colocassem livros junto das flores e disse:
- Agora, tragam as crianças.
Entram bebês, com cerca de oito meses, todos iguais (um Grupo Bokanowsky, sem dúvidas) e vestidos de cáqui (pertenciam à casta Delta).
- Ponham as crianças no chão e virem-nas de modo que vejam as flores e livros...
...As crianças engatinharam ansiosas até as flores e os livros. Ao chegarem neles, tocaram, pegaram, despetalaram as rosas. O Diretor disse:
- Observem bem. – E, levantantando a mão, deu um sinal.
Uma explosão violenta fez ecoar um som estridente, fazendo com que os bebês pulassem de susto e gritassem de medo. Não contente, o diretor deu outro sinal e, desta vez, choques elétricos foram dados nas crinças no intuito deles lembrarem disto quando pensarem em olhar flores ou pegar em livros. Os livros e o barulho, as flores e o choque – na mente infantil essas parelhas já estavam ligadas de forma comprometedora... Criaram ódio instintivo à livros e flores...
...Não era seguro que eles desperdiçassem tempo com livros, pois havia o perigo de lerem algo que provocasse o indesejável descondicionamento de algum reflexo...” (Admirável Mundo Novo, Cap. II).
Mas e as flores? Deixo esta no ar. Sugiro que leiam esta impressionante obra-prima literária, escrita por um dos grandes escritores do nosso tempo.
14 comentários:
Eu li este livro apenas uma vez, acho que ha tres anos, e ainda guardo o impacto da leitura, sem duvida impressionante o fato de que foi escrito no inicio da decada de 1930! Incrivel como nao ganhou uma real adaptacao, mas influenciou diversos roteiros de ficcao cientifica.. Adorei o elenco!
Kau, eu nunca li este livro, mas parece ter uma história bem interessante. Gostei dos nomes que você sugeriu para uma possível adaptação.
Romeika, exatamente. Impacto é a palavra certa, não? Isso por que eu nem mencionei a parte onde descrevem o laboratório de criação...
Kami, jura que não leu? Jurava que já tinha lido. Acho que você vai gostar bastante.
Nunca li mais fiquei curioso pelo livro. Na verdade, eu tenho é medo desse negócio futurista. Tenho medo do que o mundo pode virar, mas pareceria fantástico tal adaptação. Excelente texto!
Kau, de fato "O Admirável..." é uma obra fabulosa. Incluiria nesse rol "A Ilha", do mesmo autor. Huxley fazia viagens alucinantes, muitas devido ao uso de mescalina, mas é inegável seu gênio criativo, futurista e inovador. Eu assisti a uma versão feita em 1998 para a TV, que foi estrelada por Peter Gallagher, no papel de Bernard Marx, Leonard Nimoy (o Dr. Spock), como Mustapha Mond, Rya Kihlstedt, como Lenina , Sally Kirkland, como Linda, entre outros. Mas o livro é melhor. Abcs
nossa nunca ouvi falar! HUASDHSAHD!
Mas sobre o POSTA a baixo, estou querendo ir ver REC amanha!
Robson, obrigado! O livro, de fato, é bem futurista. Mas também tem MUITO de ficção científica a qual não necessariamente expressa o que será do futuro.
Jacques, eu nem citei esse telefilme pq achei horrível. Acredito que muito do livro foi deixado para trás, sabe?! A ILha é o livro que deu origem ao filme estrelado pelo McGregor? Excelente filme! Abraços.
Luciano, é uma obra muito intrigante! Vale a pena conferir. Já sobre [REC], a minha nota fala por mim, hahahahaha.
Não conheço a obra (já ouvi falar por diversas vezes, mas nunca li), mas que ótimo elenco você arrumou para a adaptação! E até que "Equilibrium" é um bom filme...
Pelo trecho, parece ser uma obra fantástica! Interessante suas hipóteses em como o filme seria adaptado. Kaufman é o maior gênio do roteiro atual e Lynch é pura viagem psicológica e emocional. Com certeza daria um grande filme. Mas Lynch sempre escreve tudo que filma...
E o elenco ta muito eclético e talentoso!
Vou procurar a obra...
Ciao!
Vinícius, achei que Equilibrium pendeu demais para a ação. Poderia ter um embasamento mais dramático e tal...
Wally, eu escolhi Kaufman pela sua genial ''insanidade''. Acho um roteirista extraordinário!! E Lynch, na verdade, não escreve tudo o que filma. História Real, por exemplo, foi escrito por John Roach e Mary Sweeney e dirigido por David. Abraços!
Olá, Kau! Tdo bem?
Òtimo texto!!! Incrível como nunca ouvi falar desta obra. Parece ser bom. Espero conseguir achar o livro.
Beijos e um ótimo fim de semana! ;)
Tudo bem Mayara, e você?
Obrigado! O livro é muito bom e espero que você o ache. Bjos e ótimo fds pra vc tb!
Não li o livro, mas o pouco que conheço da história, ela parece fascinante. Agora transpor para o cinema um livro destes é complicado e mereceria uma diretor especial, não sei quem seria o indicado.
Abraço
Como assim, Hugo??? David Lynch não seria um diretor especial??? Hahahahahahahahaha, mexeu com ele, mexeu comigo... (brincadeira). Abraços!
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