quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Adaptações - Parte II

2. Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley (Ano: 1932)



Primeiramente digo que este é um dos meus livros preferidos e se um dia pudesse vê-lo retratado no cinema da maneira que merece, ficaria realizado. Foi escrito em 1932 pelo inglês Aldous Huxley (Sem Olhos em Gaza, Contraponto, O Tempo Deve Parar) o qual já tem um lugar especial no meu hall de gênios. A explicação para isso é simples: em Admirável Mundo Novo (Brave New World), ele mostra uma antevisão de um futuro, no qual o domínio integral de técnicas e da ciência produz uma sociedade totalitária e absurdamente desumanizada. Neste romance incrustado na ficção científica, a sociedade é dividida em castas, onde os “mais evoluídos e adaptados” dominam os “inferiores”; estas castas, inclusive, eram diferenciadas por cores de roupas diferentes. É um hipotético modelo de como seria o futuro, no qual não há uma mínima noção de ética religiosa, nem de valores morais. Qualquer dúvida e insegurança dos cidadãos era dissipada com o consumo da droga sem efeitos colaterais chamada "soma" (uma espécie de fuga). Neste modelo impressionante descrito por Aldous, as crianças eram criadas em laboratório e o conceito de família era inexistente. O que mais me espanta é o fato de este livro ter sido escrito em 1932 e, mesmo assim, conter uma visão tão científica e audaciosa de um possível futuro. No começo do texto, disse que que gostaria de vê-lo reproduzido nas telonas da maneira que merece. Claro, uma vez que dois filmes em especial já tentaram reproduzir a sociedade descrita por Aldous, mas fracassaram – além de que, os filmes não são adaptações da obra: falo de “O Demolidor” (EUA, 1993 – de Marco Brambilla) e de “Equilibrium” (EUA, 2002 – de Kurt Wimmer). Além de filmes, algumas bandas já se inspiraram na obra para compor canções. É o caso de “Brave New World” (Iron Maiden), “Admirável Gado Novo” (Zé Ramalho), “Admirável Chip Novo” (Pitty). Muitos comparam a obra de Huxley com o filme "Matrix", mas não entro nestes méritos, pois este filme mostra ciência de outra forma.

É complicado imaginar quem poderia adaptar esta obra-prima. Teria que ser algum diretor ousado, mas ao mesmo tempo cauteloso. Creio que seria interessante ver Charlie Kaufman como roteirista e, talvez, David Lynch na direção. A fotografia teria que ser muito peculiar e não penso em outro nome a não ser Matthew Libatique; já para a trilha sonora fico entre Philip Glass e Alexander Desplat. A obra reúne muitos personagens, então só citarei os principais: o Diretor Alfa (Ralph Fiennes), Bernard Marx (Leonardo DiCaprio), Lenina Crowey (Amy Adams), Linda, Mãe do Selvagem John (Cate Blanchett), John, o Selvagem (Paul Dano), Mostafa Mond (Tom Wilkinson). Se assim fosse, concordam que o SAG de melhor elenco já teria dono?

Quatro anos antes de sua morte, dá continuidade à Admirável Mundo Novo com o ensaio Regresso ao Admirável Mundo Novo. Impressionante, esse Aldous. Aqui, ele tenta demostrar que muitas das "profecias" do seu romance estavam a ser realizadas graças ao "progresso" científico, no que diz respeito à manipulação da vontade de seres humanos.

Cena que deve ficar perfeita: queria poder citar pelo menos dez cenas, mas não tem como. Não irei descrever a cena com as minhas palavras; prefiro que vocês leiam e vejam a sua profundidade.

...Berçários, indicava o aviso. O Diretor abriu a porta e adentrou com os estudantes. Haviam grandes vasos apinhados de flores ao chão, até que o Diretor ordenou que as enfermeiras colocassem livros junto das flores e disse:
- Agora, tragam as crianças.
Entram bebês, com cerca de oito meses, todos iguais (um Grupo Bokanowsky, sem dúvidas) e vestidos de cáqui (pertenciam à casta Delta).
- Ponham as crianças no chão e virem-nas de modo que vejam as flores e livros...
...As crianças engatinharam ansiosas até as flores e os livros. Ao chegarem neles, tocaram, pegaram, despetalaram as rosas. O Diretor disse:
- Observem bem. – E, levantantando a mão, deu um sinal.
Uma explosão violenta fez ecoar um som estridente, fazendo com que os bebês pulassem de susto e gritassem de medo. Não contente, o diretor deu outro sinal e, desta vez, choques elétricos foram dados nas crinças no intuito deles lembrarem disto quando pensarem em olhar flores ou pegar em livros. Os livros e o barulho, as flores e o choque – na mente infantil essas parelhas já estavam ligadas de forma comprometedora... Criaram ódio instintivo à livros e flores...
...Não era seguro que eles desperdiçassem tempo com livros, pois havia o perigo de lerem algo que provocasse o indesejável descondicionamento de algum reflexo...
” (Admirável Mundo Novo, Cap. II).

Mas e as flores? Deixo esta no ar. Sugiro que leiam esta impressionante obra-prima literária, escrita por um dos grandes escritores do nosso tempo.

14 comentários:

Romeika disse...

Eu li este livro apenas uma vez, acho que ha tres anos, e ainda guardo o impacto da leitura, sem duvida impressionante o fato de que foi escrito no inicio da decada de 1930! Incrivel como nao ganhou uma real adaptacao, mas influenciou diversos roteiros de ficcao cientifica.. Adorei o elenco!

Anônimo disse...

Kau, eu nunca li este livro, mas parece ter uma história bem interessante. Gostei dos nomes que você sugeriu para uma possível adaptação.

Kau Oliveira disse...

Romeika, exatamente. Impacto é a palavra certa, não? Isso por que eu nem mencionei a parte onde descrevem o laboratório de criação...

Kami, jura que não leu? Jurava que já tinha lido. Acho que você vai gostar bastante.

Robson Saldanha disse...

Nunca li mais fiquei curioso pelo livro. Na verdade, eu tenho é medo desse negócio futurista. Tenho medo do que o mundo pode virar, mas pareceria fantástico tal adaptação. Excelente texto!

Jacques disse...

Kau, de fato "O Admirável..." é uma obra fabulosa. Incluiria nesse rol "A Ilha", do mesmo autor. Huxley fazia viagens alucinantes, muitas devido ao uso de mescalina, mas é inegável seu gênio criativo, futurista e inovador. Eu assisti a uma versão feita em 1998 para a TV, que foi estrelada por Peter Gallagher, no papel de Bernard Marx, Leonard Nimoy (o Dr. Spock), como Mustapha Mond, Rya Kihlstedt, como Lenina , Sally Kirkland, como Linda, entre outros. Mas o livro é melhor. Abcs

Anônimo disse...

nossa nunca ouvi falar! HUASDHSAHD!

Mas sobre o POSTA a baixo, estou querendo ir ver REC amanha!

Kau Oliveira disse...

Robson, obrigado! O livro, de fato, é bem futurista. Mas também tem MUITO de ficção científica a qual não necessariamente expressa o que será do futuro.

Jacques, eu nem citei esse telefilme pq achei horrível. Acredito que muito do livro foi deixado para trás, sabe?! A ILha é o livro que deu origem ao filme estrelado pelo McGregor? Excelente filme! Abraços.

Luciano, é uma obra muito intrigante! Vale a pena conferir. Já sobre [REC], a minha nota fala por mim, hahahahaha.

Anônimo disse...

Não conheço a obra (já ouvi falar por diversas vezes, mas nunca li), mas que ótimo elenco você arrumou para a adaptação! E até que "Equilibrium" é um bom filme...

Anônimo disse...

Pelo trecho, parece ser uma obra fantástica! Interessante suas hipóteses em como o filme seria adaptado. Kaufman é o maior gênio do roteiro atual e Lynch é pura viagem psicológica e emocional. Com certeza daria um grande filme. Mas Lynch sempre escreve tudo que filma...

E o elenco ta muito eclético e talentoso!

Vou procurar a obra...

Ciao!

Kau Oliveira disse...

Vinícius, achei que Equilibrium pendeu demais para a ação. Poderia ter um embasamento mais dramático e tal...

Wally, eu escolhi Kaufman pela sua genial ''insanidade''. Acho um roteirista extraordinário!! E Lynch, na verdade, não escreve tudo o que filma. História Real, por exemplo, foi escrito por John Roach e Mary Sweeney e dirigido por David. Abraços!

Mayara Bastos disse...

Olá, Kau! Tdo bem?

Òtimo texto!!! Incrível como nunca ouvi falar desta obra. Parece ser bom. Espero conseguir achar o livro.

Beijos e um ótimo fim de semana! ;)

Kau Oliveira disse...

Tudo bem Mayara, e você?
Obrigado! O livro é muito bom e espero que você o ache. Bjos e ótimo fds pra vc tb!

Hugo disse...

Não li o livro, mas o pouco que conheço da história, ela parece fascinante. Agora transpor para o cinema um livro destes é complicado e mereceria uma diretor especial, não sei quem seria o indicado.

Abraço

Kau Oliveira disse...

Como assim, Hugo??? David Lynch não seria um diretor especial??? Hahahahahahahahaha, mexeu com ele, mexeu comigo... (brincadeira). Abraços!