A máfia sempre foi, no geral, muito bem retratada seja no cinema, com "O Poderoso Chefão" (a impressionante trilogia), "Os Bons Companheiros", "Cassino" e até o atual, mas discutível, "Senhores do Crime"; seja na televisão, com a série "The Sopranos". Estes materiais nos apresentam os dramas de pessoas mafiosas ou, pior, das que cruzam o caminho destas. Após assistir ao vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes este ano, o italiano "Gomorra", fiquei com a impressão de que jamais tinha visto algo tão forte sobre este tema em toda a minha vida. De fato, como bem disse o meu buddy Louis em sua crítica, "Gomorra" não deve em nada para estes filmes citados. Mas deixo bem claro que o único filme deste estilo que leva o título de obra-prima, é "O Poderoso Chefão".
Tudo começou em 2006, quando o ousadérrimo jornalista italiano Roberto Saviano, publicou um livro (intitulado “Gomorra”), o qual é uma completa e detalhada descrição explicativa do funcionamento da Camorra, uma das máfias do sul de Itália. Resultado: Saviano vive sob proteção policial, já que teve sua vida ameaçada de morte pelos chefes do sistema. Óbvio que tenho pena do jornalista, mas também devo agradecê-lo por ter escrito tal material que, hoje, foi transposto para o cinema de forma magistral. O diretor Matteo Garrone escolheu cinco histórias do livro, as quais representam a relação entre a Camorra, a sociedade e a política italiana. Também teve a grande idéia de nos aproximar ainda mais de tudo e deixar a fita mais real, utilizando por várias vezes a câmera na mão e, assim, dar um ar expositivamente documental. Percebemos que a Camorra não se preocupa com nada, pois em todos toca, a todos corrompe e de tudo arranca dinheiro. Não pensem que verão cenas de fidelidade e generosidade entre os que integram a equipe do sistema (os padrinhos em "The Sopranos", por exemplo). Tudo é mostrado com frieza: não há piedade e aquilo que vemos no longa, é o cotidiano daquelas pessoas. Desde as crianças que são treinadas para fazerem pequenos trabalhos para a organização, passando pelos grandes empresários que a comandam e desembocando nos pobres aspirantes a soldados que, mais dias menos dias, serão encontrados em alguma esquina cobertos de balas. A premissa é, em suma, simples: mostrar a organização da Camorra. O que é complicado é a execução desta idéia central, já que tange vários vértices de uma complexa figura geométrica (pode ser um cubo: apesar de ter vários lados, todos são interligados).
Matteo decidiu por explicitar uma Itália nojenta com locações escuras, em tons de marrom, cinza e preto. Várias cenas absurdamente fortes ocorrem sob um céu nublado, pesado e prestes a desabar em água (o que é proposital). O elenco é muito interessante e, em alguns momentos, achei que aquilo tudo era totalmente natural para eles, tamanha a força de entrega dos atores. Outra grande sacada foi a trilha fantástica ministrada pela banda Massive Attack. Falei em naturalidade por parte do elenco, mas uma coisa que me deixou chocado foi a naturalidade da população das províncias dominadas pela Camorra: vivem normalmente, como se a máfia fosse parte da cidade, como sendo o que a faz funcionar. Para terminar, todos nós sabemos que esta é a fita que representará a Itália na disputa por uma vaga ao Oscar. Sem mesmo ver os principais concorrentes, digo que será absurdamente ridículo se "Gomorra" for preterido.
Nota: 9,5
Gomorra; Itália, 2008; Drama; de Matteo Garrone; Com: Salvatore Abruzzese, Simone Sacchettino, Salvatore Ruocco, Vincenzo Fabricino, Vincenzo Altamura, Italo Renda, Maria Nazionale.
Tudo começou em 2006, quando o ousadérrimo jornalista italiano Roberto Saviano, publicou um livro (intitulado “Gomorra”), o qual é uma completa e detalhada descrição explicativa do funcionamento da Camorra, uma das máfias do sul de Itália. Resultado: Saviano vive sob proteção policial, já que teve sua vida ameaçada de morte pelos chefes do sistema. Óbvio que tenho pena do jornalista, mas também devo agradecê-lo por ter escrito tal material que, hoje, foi transposto para o cinema de forma magistral. O diretor Matteo Garrone escolheu cinco histórias do livro, as quais representam a relação entre a Camorra, a sociedade e a política italiana. Também teve a grande idéia de nos aproximar ainda mais de tudo e deixar a fita mais real, utilizando por várias vezes a câmera na mão e, assim, dar um ar expositivamente documental. Percebemos que a Camorra não se preocupa com nada, pois em todos toca, a todos corrompe e de tudo arranca dinheiro. Não pensem que verão cenas de fidelidade e generosidade entre os que integram a equipe do sistema (os padrinhos em "The Sopranos", por exemplo). Tudo é mostrado com frieza: não há piedade e aquilo que vemos no longa, é o cotidiano daquelas pessoas. Desde as crianças que são treinadas para fazerem pequenos trabalhos para a organização, passando pelos grandes empresários que a comandam e desembocando nos pobres aspirantes a soldados que, mais dias menos dias, serão encontrados em alguma esquina cobertos de balas. A premissa é, em suma, simples: mostrar a organização da Camorra. O que é complicado é a execução desta idéia central, já que tange vários vértices de uma complexa figura geométrica (pode ser um cubo: apesar de ter vários lados, todos são interligados).
Matteo decidiu por explicitar uma Itália nojenta com locações escuras, em tons de marrom, cinza e preto. Várias cenas absurdamente fortes ocorrem sob um céu nublado, pesado e prestes a desabar em água (o que é proposital). O elenco é muito interessante e, em alguns momentos, achei que aquilo tudo era totalmente natural para eles, tamanha a força de entrega dos atores. Outra grande sacada foi a trilha fantástica ministrada pela banda Massive Attack. Falei em naturalidade por parte do elenco, mas uma coisa que me deixou chocado foi a naturalidade da população das províncias dominadas pela Camorra: vivem normalmente, como se a máfia fosse parte da cidade, como sendo o que a faz funcionar. Para terminar, todos nós sabemos que esta é a fita que representará a Itália na disputa por uma vaga ao Oscar. Sem mesmo ver os principais concorrentes, digo que será absurdamente ridículo se "Gomorra" for preterido.
Nota: 9,5
Gomorra; Itália, 2008; Drama; de Matteo Garrone; Com: Salvatore Abruzzese, Simone Sacchettino, Salvatore Ruocco, Vincenzo Fabricino, Vincenzo Altamura, Italo Renda, Maria Nazionale.
15 comentários:
Essa é para me deixar de cabelos em pé né Kau!
QUERO MUITO VER GOMORRA!!!
Alias, como vc viu????
Filme fantástico! Acho que desde "Os Bons Companheiros" não tínhamos um filme sofre a máfia tão visceral.
Filmes de máfia nem sempre estão na minha lista e não é porque não goste, mas que nunca tive oportunidade... mas esse quero ver, com certeza!
Cassiano, é de deixar impressionado. O bom e velho "Paul Torrent" trouxe de presente, hahahahaha. Vale a pena dar uma procurada...
Yuri, que palavra perfeita vc usou: VISCERAL!
Robson, aconselho você a procurar outros bons filmes de máfia. A maioria são bem feitos.
Abraços!
Este já o tinha referenciado. Logo que saia em DVD é para ver sem falta!!!!!
Abraço.
O seu é mais um comentário excelente que leio sobre "Gomorra". Acho que o filme italiano é o favorito ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Red, é imperdível! Abraços.
Kami, obrigado pelo elogio. Só evito em arriscar num possível vencedor, ainda. Ano passado, apostei tudo, nesta época, no brilhante filme romeno e deu no que deu.
Super ansioso por esse filme, a expectativa aumenta toda vez que vejo comentários tão positivos como os seus.
Kau... jah tenho encontro marcado com Gomorra amanha à noite, aproveitando que não terei aula na faculdade... sem dúvidas passou a ser um dos filmes que mais aguardo no ano...
Comparações com O Poderoso Chefão, Os Bons Companheiros e Cassino, realmente foram feitas... mas sinceramente acho quase impossível surgirem mais filmes iguais ou até melhores que estes, que são na minha opinião filmes únicos, obra-primas magistrais, forças da natureza...
Mas se a comparação foi feita é pq tem sentido, Gomorra pode até ser idem uma obra-prima... super hiper mega ansioso...
abraço!
Cara nunca tinha nem ouvido falar no filme e vou te dizer que nao me impolguei nenhum poucoo. esse nao é um estilo que gosto de ver! HUAHDUH
Vinícius, aconteceu isso comigo também.
Sergio, como eu disse, a única obra-prima do gênero, pra mim, é a trilogia do Coppola. Os Bons Companheiros, por exemplo, leva no 9,0 e Cassino 8,5. Logo, fica claro que prefiro muito mais este Gomorra. Bom filme e abraços!
Lucas, se você não gosta de filmes sobre a máfia, então aconselho a não assistir. Na verdade, se ainda não viu outros filmes nesta linha, assista-os antes de ver O Poderoso Chefão e Gomorra.
Ótimo texto, Kau.
Quero muito ver esse filme. Adoro filmes de máfia e tenho tudo para gostar desse. Mas e aí, viu por cine download? Vou apelar para esse meio hehehe
Abraço!
A sinopse é das melhores, assim como seu texto e o tema Máfia sempre atrai a atenção.
Agora filmes sobre a Camorra são poucos, me lembro do bom "O Professor do Crime" um drama italiano dos anos 80 estrelado por Ben Gazzara e Laura Del Sol, com direção de Giuseppe Tornatore antes de fazer "Cinema Paradiso".
Abraço
Ibertson, obrigado. O filme é realmente um espetáculo. E eu recorri ao download mesmo...
Hugo, obrigado também. Ainda não vi este filme do Tornatore, mas sou fã da Laura Del Sol. Vou procurá-lo e você, quando puder, assista ao filme do Garrone!
Abraços!
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